Pulsar

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012




Talvez estas sejam palavras invulgares. Peço-te: lê para além da sua superfície.
Hoje, perdem-se no vazio as palavras, e eu, vítima de um paradoxo, encontro-me nas múltiplas memórias de partilha infinita. Relembro que a última vez que beijei os teus lábios foi sem o conhecimento das despedidas futuras. A última vez que me afoguei nos teus olhos ignorava que me despedia desse tumultuoso mar. Na última vez que enlacei o teu corpo de encontro ao meu, soltei-te demasiado cedo porque imaginei um reencontro. Talvez por isso vivam agarrados a mim: o teu cheiro, o teu sabor, a tua pele. Quero apagar-te desta memória imediata do ser, mas também te queria, inteiro, pele com pele adivinhada. Não suporto ter-te a mais de um centímetro da minha pele, mas também não suporto ter-te assim dentro de mim: cravado no meu respirar, permanência no meu sentir. Mesmo que um dia estejas longe da memória imediata do que sou, permanecerás incrustado na minha pele, serás as cicatrizes das feridas felizes que causei em mim, ou tu causaste em mim. Importa que vivi (te vivi), isso faz-me feliz, quando não me agoniza até ao ponto de me sentir sufocar. Talvez não gostes de ouvir: que te gostei para lá da loucura; que tudo isso me fez ter medo; que sim, te vi perfeito. Talvez não suportes ouvir...
É urgente falar, ouvir, comunicar. Agente, apenas isso, do pulsar antiquíssimo do desejo. Não é só quando encontramos a inteligência que nos descobrimos. Somos antes e depois das palavras, somos para além delas. Como se um momento redimisse todas as lágrimas, ou a recordação do teu sorriso representasse toda a salvação. Hoje é apenas hoje. Até amanhã.

(Fernanda Monteiro)



- Não gosto de publicar textos alheios aqui. E não faço a menor ideia de quem seja essa Fernanda. Mas gosto particularmente deste texto. Tenho ele guardado nos arquivos há alguns anos e me toca de uma forma especial.
Não é preciso suas próprias palavras, quando outros conseguem dizê-las.

Que 2013 aconteça!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012


Tim-tim


Fim de ano é sempre a mesma coisa. Um acúmulo de tantos fins e expectativas em começos. E nem adianta negar, todos fazemos isso. Todos paramos em algum momento para refletir como foi o ano e pelo menos fazer aquele pensamento positivo pra tudo o que deseja pro ano que se inicia.

Não acho que os anos foram feitos por uma questão de organização apenas, por uma divisão de horas, dias, meses e 4 estações. Acredito que os anos vão e vem para que o homem não perca o que tem de mais forte na vida: esperança. É isso o que move a humanidade. E por mais que saibamos que nada muda realmente, que um novo ano é apenas a continuação do tempo e nada mais, tudo se renova. Acho lindo e válido esse jeito que nós temos de reagir quando se fecha um ciclo, como se tudo fosse possível.

Ainda não tenho minhas metas para 2013 – além da maior de todas: me formar, finalmente. Mas tenho usado estes dias de dezembro para fazer a minha retrospectiva particular de 2012. Tudo o que eu vivi e quero viver mais e tudo o que eu passei e não quero esquecer, mas apenas não lembrar.

2012 foi um ano difícil para esta que vos escreve. Não que “difícil” signifique necessariamente “ruim”. Mas pode-se dizer que , mesmo terminando em par, foi um ano ímpar.

O ano só começou mesmo no final de janeiro, quando voltei dos Estados Unidos, da minha aventura. Curso, viagem e compras suados pra pagar, dos quais só tive o orgulho de quitar há apenas 2 meses.
Foi tudo tão mágico que realmente voltei com a ideia ilusória de que 2012 seria O ano da minha vida. Não acho que foi o melhor, nem de longe. Mas eu estava certa sobre coisas que mudariam tudo.

Academicamente foi o ano mais tenso de toda a minha graduação. Mas finalmente acabei com todas as disciplinas que me causavam problemas e é o que me deixa mais orgulhosa de todo o suor e as noites mal dormidas. Agora, depois de 5 longos anos, vejo o fim realmente próximo, consigo quase tocar o meu canudo vazio representando a minha formação como Química. O qual eu assumo que duvidei muitas vezes que chegaria.

Profissionalmente, cresci e cresci muito. Com o melhor chefe que alguém poderia ter na vida e que agora, com muita tristeza tenho que aprender a me despedir.

Fisicamente, parei o ballet, voltei pro ballet e parei de novo. É difícil demais ter um horário fixo com tantas outras coisas para fazer. Meu joelho parou de doer, voltou a doer, parou e voltou de novo. E acho que esse é um ciclo sem fim.
E meus maiores gastos do ano foram com os meus olhos. Cegueta e cheia de problemas, estou gastando uma nota com remédios apenas na esperança – de novo ela – de ser uma pessoa com “olhos bons” em 2013.

Na minha vida sentimental, vivi o fim de algo que estava comigo há quatro anos e que acreditei que era pra sempre. Mas como diz a música “o pra sempre sempre acaba”.
E sem prever, imaginar ou mesmo desejar, eu me apaixonei de novo. Loucamente, com todas as minhas forças, abrindo o meu coração machucado mais uma vez, sem medir as consequências. Foi lindo! Claro que cada paixão é única, mas foi insanamente forte. Arrisco a dizer: mais forte do que qualquer anterior, mas porque eu mesma acabei deixando, me permiti, me iludi. Quanto mais forte você joga – ou se joga – mais forte volta pra você também. Foi uma paixão que vivi por pouco tempo. Mas viveria de novo, mesmo com todas as ilusões. Porque pelo sim e pelo não, foi o sal do meu ano. E eu agradeço por ter algo para pensar e sentir. E viver. Porque a vida vai muito além das minhas provas, trabalhos e remédios.

Não tenho medo de deixar as coisas acontecerem. Meu único medo é de que elas não aconteçam.
Então hoje, o meu desejo de ano novo é que 2013 simplesmente aconteça!

O Natal, a (in)(e)volução dos brinquedos e crianças que crescem demais

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012




“E então é natal... e o que você fez?[...]” La La La La...

Tudo começou quando resolvi escolher e adotar uma cartinha do projeto “Papai Noel dos Correios” (*). Depois de ler várias, rir com algumas e querer chorar com outras, acabei escolhendo a cartinha muito fofa de uma menininha de 8 anos, chamada Geovana. Ela pediu uma boneca e uma roupinha para passar o natal. Simples assim, não especificou nada. Logo pensei: “moleza”. Só que não.

Ontem fui ao shopping e resolvi já dar uma olhada nas bonecas. Milhares de opções, uma com mais apetrechos que a outra. Deixei pra lá. Hoje fui ao centro, crente que seria o melhor local. Conclusão do dia: não existe mais boneca “só” boneca. Todas elas fazem alguma coisa. Tem a boneca que come, a que fica doente, a que chupa pirulito, a que faz xixi, a que te ensina inglês, a que caga, tem de tudo. Menos uma simples boneca. E percebi que isso vale para muitos outros brinquedos também. Barbie de todas as profissões, Polly que vira de ponta-cabeça, carrinho que vira monstro.  Poxa, eu gostava das minhas simples bonequinhas que fechavam os olhinhos quando deitava e abria quando levantava – e aí levava uma pancada no olho e ficava torta.
Acabei comprando uma boneca que fala 10 frases e não fecha os olhos. Parece um bom negócio, mas no fim, estou preocupada que isso acabe frustrando mais a Geovana do que a deixando feliz. Imagina se ela aperta a barriga da boneca infinitas vezes por dia e a coitada para de falar em uma semana? Triste.

Agora o meu segundo problema. A Geovana pediu uma roupinha, ok. Mas a única informação que eu tenho dela é que ela tem 8 anos. Na minha infância essa seria uma missão muito simples. Todas as menininhas de 8 anos eram mais ou menos iguais, mais ou menos como eu. Magrinhas, um pouquinho mais altas ou mais baixas. Era raro ver alguma bem gordinha ou muito alta. Um vestido tamanho 10 resolveria o caso. No entanto, porém, toda via...  Não existe mais um padrão entre as crianças de hoje. Tem criança de 8 anos pesando 60kg, tem menina de 10 anos calçando 37 e com 1,70m de altura. E elas não são maioria ou minoria, simplesmente fazem número como todas as outras. Vou comprar uma roupinha tamanho 10 mesmo e torcer pra que a Geovana não seja uma explosão de hormônios e/ou gorduras.

Meu Deus, quando foi que a infância ficou tão complicada?


(*) Pessoal, a campanha Papai Noel dos Correios ainda está acontecendo! Se você não sabe o que é ou nunca participou, vá até a agencia de Correios da sua cidade – em Bauru na Rua Bandeirantes com a Gerson França – e pelo menos leia algumas cartinhas! Tenho certeza de que 10 minutos depois você já vai ter algumas separadas na sua mão sem saber qual pegar. São crianças carentes que todos os anos escrevem ao Papai Noel, com a esperança de realizarem o seu sonho e ganhar um presentinho! Você só precisa escolher uma, comprar o presente e levar embrulhado na agência, os próprios voluntários da campanha se encarregarão de entregar!
A quem interessar, vocês só tem até o próximo dia 14/12! Vamos fazer o natal de uma criança mais feliz!!!

saudade...

Se for se apaixonar, não beba.

domingo, 28 de outubro de 2012


"De todas as maneiras de perder a dignidade, se apaixonar é a pior delas."

Li (e compartilhei) essa frase da página "Coruja Depressão", no facebook. Há dias, semanas, meses, tenho procurado um termo que descreva as nossas merdas reações quando nos apaixonamos.
E é isso, é exatamente isso: perdemos a dignidade. Muito mais do que quando bebemos, diga-se de passagem. Por isso bebida e paixonite não combinam, fica a dica.

Não estou falando de "amor pra vida toda", nem da "outra metade da laranja". Apenas de paixão avassaladora.
E não importa quão racional você seja, quão culto, quantos diplomas tenha, se possui uma alma filantrópica, se ganhou o prêmio Nobel. Não adianta, em algum momento vai meter os pés pelas mãos e tomar alguma atitude que em sã consciência seria inconcebível. Algo que não é "você".

São aquelas histórias que ouvimos os outros contando e falamos "que menina louca!" ou "esse cara tem problema!".
Mas todos nós temos histórias ridículas para nos lembrarmos, momentos em que a nossa dignidade estava lá, se arrastando no chão, toda suja de lama.

Foi aquele momento que você ligou pro seu ex-namorado às 2h da manhã, mesmo depois de ter ouvido dele que estava tudo acabado.
Aquela situação constrangedora em que você deu um presente caro para a menina que nunca nem beijou, na frente de toda a família e a mãe leu o bilhete romântico antes dela. 
O galinha que te traiu de todas as formas possíveis e você voltou com ele, mesmo tendo jurado de pé junto que nunca mais queria ver nem pintado de ouro.
Aquela vez que você chorou na frente dele/dela, depois de 1 hora e 47 minutos de discussão, implorando "não me deixe!".
Quando você diz pra todo mundo que já superou, mas abre o facebook dele/dela 38 vezes por dia e o seu melhor amigo te pega no flagra.
Quando você inventou que estava doente e às 11h da noite ligou pro coitado te levar no hospital, só pra fazer chantagem emocional (acredite, já vi essa situação acontecer. E mais de uma vez!).
Também teve aquela vez que a melhor amiga da sua ex te ligou de madrugada, pedindo pra ir até lá porque a coitada bebeu todas e só fica falando o seu nome, abraçada com a privada.
E o nosso amigo Ted Mosby, que roubou um trompete azul e disse "eu te amo" no primeiro encontro... E vomitou no carpete de entrada depois de afogar as mágoas!
E por aí vai... São infinitas as possibilidades de acabar com a sua moral quando se está apaixonado.

Depois ficamos envergonhados. Muito envergonhados. Quando a racionalidade volta ao seu lugar e nos damos conta de como fomos ridículos. Cadê o amor próprio? Cadê o orgulho? Cadê a dignidade? Cadê?

Achamos que a outra parte vai rir pelas nossas costas para sempre. E que foi a nossa pequena atitude que arruinou tudo, tudo! Mas a verdade é que, neste quesito, ninguém pode jogar pedras. Todo mundo já teve alguma atitude constrangedora da qual se arrepende e não teria tomado se tivesse pensado duas vezes. Concordo, algumas são - muito - mais constrangedoras do que outras. Mas com a paixão a gente não pensa duas vezes. É um sentimento dominador, por isso perigoso.

E é extremamente importante que cometamos estes erros, estas atitudes ridículas e impensadas. Pois se aprende muito com elas, dificilmente comete-se as mesmas novamente. Comete-se outras.

E no final, o que temos é um monte de histórias bobas e engraçadas pra contar. Engraçadas sim, porque a paixonite passa e o que foi um arrependimento enorme um dia, vai acabar sendo só uma lembrança.

Pare pra pensar: quais foram as atitudes que te fizeram perder a dignidade, agir como se não fosse você?

Home alone

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


Nina, no papel "Gabriela e suas duas baratas"


Abril de 2009. Era a primeira vez que ia dormir completamente sozinha no novo apartamento, as meninas tinham ido viajar e eu garanti que ficaria bem. Doce ilusão. Ribeirão Preto já estava naquela época do ano de fazer as quatro estações num dia só. No meio da tarde um calor latejante, no meio da noite o inferno gelado. Morava no último andar e meu namorado chegaria na manhã seguinte, o que poderia dar errado? Tudo.
 
Fiquei à toa na internet até às 2 da manhã e já estava quase no estado zumbi alfa 2.0 quando resolvi ir para a cama. Achei que estava tudo bem, que eu tinha sobrevivido 100% à minha primeira noite naqueles poucos metros quadrados. Mas meu apartamento era inteiro de forro. E o que eu não sabia era que este mesmo forro fora feito com a madeira proveniente da árvore do quintal de Hitler e que estava lá apenas para o meu sofrimento, guardando-me algumas surpresas.
 
Maldita a hora que resolvi manter meus hábitos higiênicos noturnos. Já se passava das duas, eu poderia muito bem ter ido dormir e deixado para escovar os dentes na manhã seguinte, mas não. Chegando ao banheiro, estava lá, bem na minha frente, me olhando, mexendo as antenas para lá e para cá. Imóvel, estava tentando me enganar, como se eu não soubesse que ela poderia se mover na velocidade da luz a qualquer momento e voar para dar o bote. Voar!
 
Eu estava tão feliz, minha primeira noite! E em plena madrugada de uma sexta-feira, com tantas coisas boas a se fazer, me encontrava presa num micro banheiro com aquele ser das trevas horrendo.
Na minha mente tudo se passou em câmera lenta, mas, por reflexo, consegui fechar a porta antes que seu pequeno cérebro de barata pudesse reagir e resolver me perseguir. Quando achei que nada mais podia dar errado, a maçaneta estava enroscada. Isso significava que eu precisaria abrir a porta novamente para desenroscar antes de fechar direito, mas eu não podia me arriscar. Com uma faixa consegui prender a porta do banheiro ao armário e a única coisa que encontrei para vedar o vão do chão foi a minha toalha de banho, coitadinha da minha toalha.
 
Foi nesse momento que respirei fundo e entrei em desespero total. Eu nunca ia dormir com aquele monstro a apenas uma porta de separação. Ela com certeza conseguiria se esconder e me observaria por dias até encontrar outro momento em que eu estivesse vulnerável, aliás, acredito que já estava fazendo isso há algum tempo. Mesmo assim, decidi ser macho e disse a mim mesma que eu poderia aguentar. Minutos depois estava na minha cama em posição fetal, sem coragem de apagar a luz, observando fixamente a porta do banheiro, respirando fundo, até que... Na parede oposta noto um leve movimento e aí já era tudo. Ah não! Outra não! Por que, Deus???
 
Já não segurava mais as lágrimas e dei um grito que provavelmente deve ter acordado todos os vizinhos.
Não conhecia ninguém no prédio, tinha me mudado a menos de 2 meses! Como eu poderia tocar a campainha de um completo desconhecido em plena madrugada? Liguei para um amigo que morava a uns 10 quarteirões e em meio aos soluços expliquei a situação. Ele, como um bom amigo, fez o que qualquer outra pessoa que me ame tanto faria na sua posição: morreu de dar risada. Reforcei – muito seriamente – que não estava brincando e que precisava que ele fosse até lá matar os monstros. É claro que fiquei com dó, 10 quarteirões a 10°C. Mas eram duas baratas e eu, não tinha outra opção.
 
Esperei na portaria e pouco tempo depois meu amigo chegou embrulhado num edredom, com olhos vermelhos de sono e rindo da minha cara de choro. Entrou no meu quarto como um herói armado para me livrar do sofrimento. A primeira barata ele concordou que realmente tinha um tamanho avantajado. A segunda barata era na verdade uma linda lagartixa que ficou morando comigo por um tempo. Meu salvador dormiu num colchão ao meu lado para a minha proteção e não tive minha primeira noite sozinha.
 
Realmente não acredito que baratas possam ter qualquer importância na cadeia alimentar. Se eu partir para a pesquisa, me comprometo a buscar desenvolver um composto que possa exterminar da face da terra esse bicho. Como se não bastasse ser nojenta, bizarra, asquerosa e ter a capacidade de sobreviver a um ataque nuclear, a filhadaputa ainda tem que voar. Voar!
 
Aranha? Ok. Sapo? Ok. Cobra? Ok. Escorpião? Ok. Lagartixa? A coisinha mais fofa de Deus.
Mas barata, ah... Essa foi sacanagem divina.


A dor e a delícia

quarta-feira, 10 de outubro de 2012



Todos conhecem a velha canção que diz "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
Mas será que sabemos mesmo? Conseguimos saborear tanto a dor quanto a delícia?

Sofro do mal de sinceridade aguda e alta necessidade de verbalização. Por culpa desse "mal" já recebi elogios e fui autêntica em situações que muita gente abaixaria a cabeça. Por outro lado, é por conta dessa "personalidade forte" - como alguns chamam - que sou, eu mesma, a responsável pelo fim da maioria dos meus relacionamentos, direta ou indiretamente.
É triste ser responsável pelo fim de algo que você só queria que durasse. Mas não nasci pra joguinhos, não consigo me fazer de sonsa e deixar o tempo passar com tudo escorrendo pelos meus dedos sem poder fazer nada a respeito.

Imagine a seguinte cena: alguém segurando um punhado de merda e outro repetindo "segura mais um pouco, que logo eu te trago uma lixeira pra jogar fora". E pode ser mesmo verdade. Faz sentido esperar a lixeira. Mas o problema é que a merda fede. 
Não sei se por impaciência ou impulsividade. Mas sou o tipo de pessoa que joga a merda no ventilador simplesmente porque não aguenta mais ficar segurando.
E como se não bastasse jogar, eu preciso dizer por que joguei, explicar que estava fedendo.

A delícia é que eu me imponho. Tomo o meu lugar e de lá ninguém me tira. Afinal, por que eu deveria segurar a merda enquanto espero a boa vontade de outro pra buscar a lixeira?
A dor é que, de um jeito ou de outro, fede. Se antes só comigo, depois é em todo lugar, o tempo todo. Ventilador, lembra?

Quanto nós conseguimos aproveitar do que a nossa personalidade oferece?

Acredito que a chave está não apenas no equilíbrio que podemos encontrar, mas principalmente no foco do que é forte, do que é "delícia".
Isso significa, no meu caso, saber me impor e falar tudo o que eu quero falar, com toda a minha sinceridade e necessidade, mas também saber a hora de parar. Sem deixar sobrar pra quem não tem nada a ver.

E não preciso jogar no ventilador. Só preciso de alguém que aprenda a dividir a merda comigo e que aceite minhas dores e delícias.

Ficou

quinta-feira, 27 de setembro de 2012



Do olhar ficaram os cílios, batendo... batendo...
Dos jantares ficaram os pratos.
Das mensagens ficou o celular.
Das conversas ficou o silêncio.
Da expectativa ficou a ilusão.
Das roupas ficou a camiseta.
Dos amigos ficaram colegas.
Do cheiro ficou a lembrança.
Do carro ficaram os bancos.
Das mãos ficaram os anéis.
Do inteiro ficou a metade.
Do cinema ficou a pipoca.
Das músicas ficou o ipod.
Do sexo ficou a vontade.
Do abraço ficou o vazio.
Do sorriso ficou a boca.
Do beijo ficou o gosto.
Do toque ficou o frio.

De você ficou a saudade.
...Ficou.



(i)limitando

segunda-feira, 24 de setembro de 2012



Acho importante cada um saber seus limites. Com relação a tudo.
Saber até onde pode ir, até onde aguenta. O problema é que muitas vezes o único jeito de conhecer o limite é testando.

Em alguns pontos da nossa vida nós não sabemos até onde conseguimos ir, até, de fato, chegarmos lá.
E é aí que me pergunto: será que realmente vale a pena conhecermos todos os limites?
Porque, acredite quando eu digo, o processo de testar a si mesmo até a última gota pode ser muito doloroso e desgastante. E pior: pode ser completamente insatisfatório.

É incrível como não conhecemos bem nem a nós mesmos. E se dar conta de que algum limite é muito menor do que se imaginava é ver a sua fraqueza jogada na sua cara, como um balde de água fria cheia de pedras de gelo e a vida rolando de rir de você - nunca com você.

Os limites existem para evitar que nos machuquemos. A dor é uma forma do nosso próprio organismo demonstrar que chegou no limite.
E se sabemos que a resposta é a dor, por que testá-lo?

O homem é um animal, racional, mas é. Como tal, segue instintos também. Acredito que o maior instinto do ser humano é seu modo de agir quando é desafiado. Nascemos para tal.
Até mesmo nos relacionamentos, quando não há desafio não floresce amor. Faz parte da nossa dança do acasalamento. É o que buscamos para a nossa sobrevivência e reprodução.

Com certeza é esse mesmo desafio que nos impulsiona a testar nossos limites, mesmo sabendo que podemos - e vamos - nos machucar.
Melhor do que ser desafiado é desafiar a si próprio. Vencer suas próprias barreiras, demonstrando que é muito melhor do que si mesmo.

Encontrar um limite indesejado é triste. Mas faz parte do auto-conhecimento e crescimento. E nos ajuda a enxergar onde podemos nos desafiar.
Vale a pena chorar, sentir, ouvir músicas deprês, ficar revoltado por se achar fraco. Vale a pena porque encontra a si mesmo em frente a um espelho, te apontando um grande dedo e dizendo: "Isso é apenas um limite agora. Vai ficar aí parado lamentando? Eu duvido que você encontre algo para mostrar do que é melhor do que isso! Vai!"

Indesejada

domingo, 16 de setembro de 2012


Sai do banho e com a toalha ainda torcida nos cabelos molhados, para.
Passa a mão no espelho a fim de desvendar sua imagem oculta pelas gotas de água formadas pelo vapor.

Solta as toalhas - tanto a dos cabelos, quanto a do corpo. Cabelo muito preto, muito longo, muitos cachos. Olhos muito grandes e igualmente escuros. Pele muito branca, contrastando com tudo, exceto o azulejo da parede.

Presta mais atenção na imagem do que seus grandes olhos podem captar  e repete mentalmente "ele não me deseja".
Procura algo bizarro no seu corpo, algo que possa explicar essa condição. "Ele não me deseja..."

Sente-se egoísta por esse pensamento lhe fazer tão mal. Mas, acima de tudo, sente-se injustiçada. Acha simplesmente injusto o que a vida lhe reserva nesse momento. Que ela o queira com todas as suas forças, em todos os seus átomos, de todas as formas. E ele simplesmente opta por não desejá-la. E fim.
Como quem puxa o band-aid de uma só vez para não sentir.

"Ah, me poupe, Luiza!"
Tanta coisa para fazer, tanto trabalho atrasado, o quarto para arrumar, as roupas para guardar e só o que consegue pensar é "Ele não me deseja".
Parece que repetir essa frase infinitas vezes vai ajudar a aceitar ou mudar a realidade.
Confabula possibilidades. Procura brechas. Cogita apelação, "e se eu aparecer no apartamento dele semi-nua? Talvez ele me deseje novamente... Aquele fogo tem que estar em algum lugar!".
Para. Que pensamento mais baixo. Se quisesse um animal instintivo compraria um cachorro.

Mas, como lidar com a rejeição? Como lidar com o espelho? Como lidar com a auto-estima - ou a falta dela - quando os cachos lhe caem sobre o peito de uma forma que, antes lembrava um penteado sensual, agora mais chega perto de um "despenteado" debochado. Debochando dela. "Ele não te deseja, você não é boa o suficiente".

Luiza, que antes achava que um corpo dentro dos padrões, boas notas e um papo agradável eram suficientes, agora está perdida num mar que é ela mesma.
"Ele não me deseja"
Sem saber por quanto tempo isso irá persegui-la, desiste do banheiro quente e úmido e volta à realidade.
Procura a lingerie mais bonita, a roupa mais confortável, deixa os cabelos secarem naturalmente.
Vai até o supermercado mais próximo e encontra o único que não a deixará sozinha e que preencherá momentaneamente esse vazio da rejeição, do indesejo. Chocolate.
Devora a barra muito mais rápido do que gostaria, voltando a lembrar do motivo muito antes do esperado.
Guarda o papel laminado e cola um adesivo em cima com os dizeres "Ele não te deseja". Para assim, tentar esquecer, ou não deixar de lembrar.

Minhas metades

terça-feira, 4 de setembro de 2012


Eu como meio pão.
Bebo meia latinha de coca.
Uso meia folha sulfite pra deixar um recado.
Durmo meia noite.
Aturo meias palavras.
Dou meia volta.
Faço uma refeição meia boca.
Pago meia no cinema.
Me arrumo em meia hora.
Compro meia dúzia de tomates.
Minhas disciplinas duram meio ano.
Meu salário vem no meio do mês.
Almoço ao meio dia.
Meus remédios tem meia-vida.
Minha cabeça é meio louca...

E tenho meia paciência pra algumas coisas.
Se é pra gostar de mim, se é pra ficar comigo...
Então vai gostar por inteiro e ficar direito.

Já tem muita coisa pela metade na vida.

Gabr.

Ei! Tem alguém aí?

terça-feira, 28 de agosto de 2012



[...]
"Se Deus existe, quem é ele? E se não existe Deus, o que é o universo?"

Levei muito tempo refletindo sobre essas perguntas. Se existe um deus que criou o universo inteiro, quem ele é? Ou o que é ele? E onde estará ele? Mas se o universo é independente, então o que é o universo?

"No que você acredita?", perguntei de novo.
Mika fez uma profunda reverência.

"Não tenho tanta certeza de que o universo é obra do acaso."

"Mas você acredita num deus que fez tudo?"
Ele fez outra reverência. Depois perguntou:

"Você promete aceitar minha resposta simplesmente como uma resposta?"

"Claro que sim!"

Achei que ele estava querendo dizer que eu deveria considerar sua resposta apenas uma resposta. Ou seja, lembrar que uma resposta sempre vale muito menos do que uma pergunta.
Seus olhos cintilaram rápidos.

"A força da gravidade faz um planeta girar em torno do seu sol. E a Lua atrai o mar, originando a maré alta e a maré baixa."

Disso tudo eu já sabia. Mas então ele saiu com esta:

"Você não acha que deve haver também uma força que nos puxou para fora dos oceanos, e nos deu olhos para ver e cérebro para pensar?"

Não tinha a menor ideia do que responder. Limitei-me a dar de ombros. Mika disse por fim:

"Às vezes penso que as pessoas que não acreditam nisso devem ter um sentido importante a menos."
[...]





Trecho do livro Ei! Tem alguém aí?de Jostein Gaarder.

Relacionamentos ioiô

terça-feira, 14 de agosto de 2012



Se tem um tipo de relacionamento que eu nunca entendi são os relacionamentos ioiô, ou bumerangue, ou qualquer outro tipo de objeto lúdico que você queira usar para descrever. Pessoas que “vão e voltam”, você nunca sabe se estão juntos.
Não estou falando de pseudo-relacionamentos. Não é sobre pessoas que ficam, se divertem por um tempo e depois somem. O “ir e vir” em pseudo-relacionamentos antes de se estabelecer faz parte do processo.
Estou falando sobre os relacionamentos “sólidos”, com status no facebook, porta-retrato no quarto e almoços em família. Quando esses lindos casais Doriana estão mais para chocolate fora da geladeira, que derrete e endurece até estragar. 

Talvez porque eu nunca tenha vivido essa situação, simplesmente não faz sentido.
Em geral, é fácil identificar esses casais. Quando há mais brigas do que momentos agradáveis, mais cobranças do que abraços e mais ciúmes do que respeito é porque tem algo de errado. Depois de um leve showzinho, termina. Após dois, três, quatro dias, em alguns casos uma semana, a raiva passa. Aí, reata.
Amigo, o que passou foi a raiva, o momento, o ciúme fervendo na veia naquela hora. Mas os problemas não foram resolvidos.
Promessas de amor e “sexo de reconciliação” não resolvem o que tem de errado.

Quem sou eu para julgar o sentimento de alguém? Não duvido que possa haver paixão, mas quando vejo casos assim, quase sempre chego na mesma conclusão: eles parecem estar juntos pelos motivos errados.
Casais que não conseguem permanecer juntos por 6 meses consecutivos, sem terminar, tem algo de estranho. Casais que não conseguem fazer isso por 3 meses tem algo de muito estranho.
Afinal, você está num relacionamento ou num campo de batalha?

Há anos me pergunto qual a graça nisso. É mais emocionante? Cada vez que volta reacende alguma coisa? Me desculpe, mas se alguém precisa terminar para encontrar emoção, tem algum sentimento ou ideia muito torta no meio disso.
Na adolescência via amigas jogando a aliança na cara do namorado umas duas vezes por mês. Achava que era coisa da idade, hormônios à flor da pele e namorinho de criança. Triste é que continuo vendo isso acontecer com adultos de 25 ou 30 anos. Claro, o arremesso de aliança se torna muito menos frequente depois de certa idade, mas o vai e vem é o mesmo.

Perguntando a algumas pessoas o que elas achavam sobre o assunto, recebi respostas muito radicais, como por exemplo “quem faz isso é tosco” ou “quando termina uma vez, não tem mais volta de verdade, fim”.
Acho que é de consenso geral que esse vai e volta soa como imbecilidade e imaturidade. Mas, por que é tão comum, mesmo com pessoas que estão verdadeiramente dispostas? Deve existir alguma outra razão. Recuso-me a aceitar viver num mundo em que “eu te amo” e “não consigo mais olhar na sua cara” possam estar em equilíbrio entre duas pessoas.  

Numa realidade em que as relações se tornaram tão banalizadas. Com tanta falta de respeito pelo outro, em que relacionamentos instantâneos são criados em baladas e quatro semanas junto é quase uma vida. Fica difícil para alguns manterem o bom senso até quando decidem, por vontade própria, estar com outro oficialmente.

Não acho que eu seja um “exemplo de maturidade”, mas sou sempre a favor da paz. Não sou de brigas e não acho que brigar seja algo normal.
Concordo que algumas discussões fazem parte de um relacionamento, mas o foco deve ser encontrar o problema e resolver. A discussão vira “briga” a partir do momento em que o foco é insultar ou machucar o outro, ou apenas “jogar as verdades na cara”.

Continuo não entendendo o que leva um casal a terminar e voltar tantas vezes. Mas se as brigas são os catalisadores do ioiô, só o que posso fazer é recomendar suco de maracujá e sessões de yoga.

O padrão do fim

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Até os diálogos do fim seguem um padrão

Engraçado como muitas coisas na vida seguem padrões. E nós não aprendemos nada com eles.
Acho que faz parte da essência humana ser tão limitada.
Dizem que Einstein disse uma vez que "Loucura é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes".
Então acho que somos todos loucos.

Fins de relacionamentos - e pseudo-relacionamentos - também seguem alguns padrões. Ocorrem todos da mesma forma. E nós sempre agimos como se fosse a primeira vez. Algumas vezes com mais intensidade do que outras, concordo.
Mas é interessante notar alguns detalhes. Uma das partes sempre sai aliviada. E não digo isso em tom pejorativo. Acontece que da mesma forma que "quando um não quer, dois não brigam", também é válido para "quando um não quer, dois não beijam".
Infelizmente, relacionamentos são seres com alelos dominantes para o não. Isso significa que, por mais que você acredite com todas as suas forças que o outro é o amor da sua vida, se ele disser "não", fim. Você não tem voz ativa. O seu "sim" é recessivo e isso nunca vai mudar. Por isso, o dono do não sempre vai sair aliviado. Não é por mal, mas ninguém quer ter a responsabilidade da felicidade de outro que não deseja mais sobre as suas costas.
Já o dono do sim... Bom, esse é o coitado que reage da mesma forma como todos os outros quando levam um pé na bunda, mas é limitado demais pra enxergar isso e fazer alguma coisa diferente. De qualquer forma, talvez toda a sequência padrão seja mesmo necessária.
Entre os atos mais comuns estão (em ordem cronológica):

  • Tentar convencer o outro - Sempre uma péssima ideia. Se o outro teve culhões pra te jogar um não, a insistência normalmente só dá mais certeza da decisão.
  • Isolar-se do mundo - O menos aceito pela sociedade e os amigos. Acham que você está "depressivo demais" ou "chato demais" ou só quer atenção. Mas é importante ter um tempo pra colocar as ideias no lugar, aceitar o fim.
  • Achar que nunca mais vai conseguir gostar/amar alguém - Esse é muito comum. E muito engraçado. Existem mais de 7 bilhões de pessoas no mundo. Sério que você acha que não vai se apaixonar de novo? Sério. Esse é um dos pontos mais relevantes do fim. E não deve ser levado como uma brincadeira. Você tem todo o direito de se sentir assim, isso significa que o seu sentimento é muito lindo e puro. Mas tente botar o pé no chão. A euforia do sentimento vai passar e depois de um tempo você mesmo irá rir de ter pensado assim.
  • Dizer que cansou de relacionamentos, que nunca mais vai se envolver com ninguém - Acho que esse é o meu preferido. Porque é mentira. É muito fácil falar isso quando tudo o que se enxerga é o outro e ninguém mais. Mas com o tempo conhece novas pessoas, surgem novas oportunidades e o "nunca mais" vai direto pelo ralo.
  • Começar a ignorar ou tratar mal o outro - Para algumas pessoas é inaceitável a ideia de não ser mais desejada, é inaceitável que o outro não queira mais. Um insulto. Tenho dó dessas pessoas. Porém, outras dão um sumiço simplesmente porque qualquer tipo de contato seja doloroso demais. Não destrate o outro porque não te quer mais, é direito dele. Mas, se você quer cortar relações, corte. É um direito seu.
  • A "piriguéty" e o "pegador" - O próprio nome já diz. Quando a pessoa quer se mostrar tão desencanada em alguém que resolve mostrar isso até demais, pra todo mundo. Considero esse um padrão totalmente desnecessário. E é importante que você tenha um(a) amigo(a) que te diga que isso é muito feio, mocinho(a).

Enfim, cada relacionamento é de um jeito. Mas são todos iguais. As pessoas é que são diferentes, as fases são diferentes, as expectativas, os desejos, os anseios. Só precisamos aprender a aceitar essas diferenças e dar uma nova chance até mesmo pro fim. Tentando mudar os nossos padrões de vez em quando. 

Inspira... Expira...

terça-feira, 10 de julho de 2012


Tom Hansen, no seu melhor estilo "surto silencioso"



Não desejo mal às pessoas. Porém, se há alguém que eu gostaria que levasse uns bons tapas é o abençoado que inventou que “a melhor maneira de se acalmar é respirar fundo”. Mais desejo ainda a quem tornou isso uma verdade universal.
Entendo que haja um fundo científico: “A respiração oxigena o cérebro, que te faz pensar melhor, acalma, blablabla...”
Mas, por favor, posso ter o direito de me acalmar de outra forma?

Particularmente, acho que todos deveríamos ter o direito de quebrar algumas coisas em certos momentos. Vai dizer que você nunca quis tacar um vaso na parede, no maior estilo madame da novela das oito!?
Acho genial a cena em que Tom Hansen aparece quebrando prato por prato delicadamente – ou nem tanto – no balcão da cozinha (vide 500 days of Summer).
Absolutamente linda e tocante, Denise Fraga jogando os ovos na parede durante a discussão com o filho, no filme As Melhores Coisas do Mundo.

Infelizmente, esse tipo de reação não é aceitável socialmente. A maioria das pessoas compreende que todos temos dias bons e ruins. E você tem todo o direito de expressar seus maus sentimentos, desde que essa expressão se resuma à um surto minimalista de dez respirações, obrigada.
O máximo que ainda pode ser aceitável – dependendo do quanto o seu problema pareça ruim aos outros, não a você – é, talvez, um ou dois berros.
O que é isso? Eu quero o meu direito de surtar!

Quero poder jogar minha caneca de cerâmica no chão, com todos olhando, e não me acharem louca por isso. Não estou incomodando ninguém, eu mesma terei de recolher os cacos, visíveis ou não.

Quebrar as coisas é uma atitude libertadora.
Você já está quebrado. Por que não tirar isso de si e jogar num objeto? Literalmente.

Um desejo particular é um belo armário, com uma plaquinha contendo os dizeres: “Para surtar”. Dentro dele, uma coleção de objetos quebráveis – facilmente ou não. Todos os tamanhos e formas, bonitos e feios.
Já imaginou o tanto de estresse que pouparei aos meus filhos? Ao invés de um tapa e gritos intermináveis, é só ir até o armário, encontrar o objeto apropriado... e quebrar.

A quem nunca tentou, boa sorte. Garanto que o efeito calmante é muito mais rápido do que o velho “inspira, expira...”.

Furta-cor

terça-feira, 26 de junho de 2012



“De manhã ela sentia uma saudade lilás. E à noite, um desejo prata que ela não sabia bem de quê.”


Quando eu tinha por volta dos meus 12 anos tive alguns problemas para dormir. Não que eu não tivesse sono, esse nunca foi o motivo. Mas simplesmente tinha medo, de não sei o que. Lembro-me de que ia deitar ainda cedo, com meus pais assistindo tv e deixava a porta aberta, pra dormir enquanto ainda houvesse barulho. Foi uma fase estranha. Tinha medo de acordar sozinha, mas como não podia garantir isso, pelo menos não queria dormir sozinha.


Também tive um período de pensamentos bizarros no pré-sono. “E se o mundo não existisse?”. De repente, abria os olhos e quando só havia preto, por um momento, ele realmente não existia.

Já um pouco mais velha, por volta dos 18, aprendi o nome de duas coisas que me tiravam o sono: ansiedade e sofrimento por antecipação. Por umas duas ou três vezes precisei ir ao hospital no meio da noite e tomar algo que me acalmasse. Minha mente repetia num mantra pra ficar calma e dormir, meu corpo respondia com uma teimosa tremedeira.

E agora, com 5 anos de faculdade e a vida adulta batendo na minha porta insistentemente, novamente me faltam palavras para o rolar na cama.
Medo de morrer, medo de não ver, de não viver, de não sentir. Uma coisa que não sei.

Então, encontrei ao acaso um velho texto de uma escritora infantil que há anos não via. E entendi o que eu sinto: uma dor azul.

“[...] E a menina, que já era uma mulher, descobriu que o nome da dor azul, como está no dicionário, é desassossego.
E que esse desassossego queria dizer, mais ou menos, em palavras de adulto:
Como será que vai ser minha vida daqui pra frente!?”

Percebi que cada fase teve uma cor diferente.
E é importante que eu me sinta meio laranja às vezes, ou azul, ou roxa, ou verde... Porque no fim, não vou precisar ter medo do futuro. Ele será um lindo arco-íris.



Recomendo o texto: “A dor azul”, de Adriana Falcão.

Ele é meu ex... mas é meu amigo!

sexta-feira, 22 de junho de 2012



Não sei se eu acredito em amizade pós-namoro. Já defendi muito isso, mas preciso dar o braço a torcer que não. Não sei se tem como.

Não estou dizendo que a pessoa namora por 6 anos e depois que acaba precisa esquecer que existe. De forma alguma. Você compartilhou uma parte da sua vida com o outro (e muitas outras coisas). Chega a ser uma falta de respeito cortar relações totalmente depois do fim – claro dependendo das condições do término é necessário. Mas a palavra “amizade” eu desconfio mesmo. Quem sabe, talvez, depois de muito tempo, anos, com a vida dos dois já tendo tomado seus rumos, pode ser que o contato casual evolua.

Na maioria das vezes quem quer continuar “amigo” depois que acaba é por não ter aceitado o fim por completo. Um relacionamento de verdade vai muito além de namorados, existe amizade mesmo. Então, manter esse lado é uma forma de não deixar o relacionamento acabar por inteiro. Falo isso por experiência própria.

Hoje me dou bem com dois dos meus três ex-namorados. Mas percebi que “me dar bem” é diferente de “ser amiga”. Não há cumplicidade total, troca de experiências, compartilhamento, convivência. O que ficou foi o respeito, o carinho, as lembranças. Mas toda vez que tenta aumentar o vínculo fica difícil de novo. Acredito ser pelo motivo de já ter vivido tanto junto, de saber tanta coisa. Tem como ser amigo de alguém que já passou essa barreira?
E como eu queria estar errada!

Já cheguei a me perguntar: “mas eu não sinto mais nada por ele nesse sentido, e nem ele por mim. E a gente se dá super bem... por que não conseguimos estreitar mais o contato de novo?”. A conclusão que eu chego é “porque não faço mais parte disso”. 

Ligar no dia do aniversário, trocar aquele “oi, tudo bem, como vai” no Skype, até marcar uma cerveja com os amigos (no caso de ter amigos em comum) casualmente é aceitável.
Mas, visitas constantes, “comprei esse negocinho porque lembrei de você”, ligações depois das 22h, sms de “bom dia” e “vamos sair pra um barzinho, eu, você, minha namorada e seu namorado” é completamente dispensável. Amiguinhos, amiguinhos, ex-namorados à parte. A não ser que haja outras intenções na reaproximação pela amizade.

Para não parecer tão radical quanto ao assunto, uma situação em que acho que a amizade pode funcionar bem é quando já eram muito amigos antes do relacionamento. Algumas pessoas conseguem voltar, mas ainda assim é preciso ter cuidado.

É preciso saber colocar um limite nas coisas. Já vi casais tentando manter uma “super amizade” que não deu em nada. Como mantinham muito contato, acabavam ficando vez ou outra, mas não queriam voltar. Só que, como não se deixavam, também não permitiam evoluir nada com outra pessoa. Enfim, é um ciclo. E nem precisa dizer que acabou com um dos dois machucados né!? Porque “amigos-ficantes-ex” é uma situação muito confortável até um dos dois encontrar alguém que resolva assumir algo a mais e deixar o outro chupando dedo. Afinal, mulher nenhuma e homem nenhum aceita um(a) “ex-superamigo(a)” pendurado.

Lições de Banheiro

quarta-feira, 6 de junho de 2012


Com o tempo e as experiências a gente vai aprendendo algumas coisas na vida.
Mas a chave principal está na projeção que podemos dar às pequenas coisas para aprender as grandes.

O banheiro é um local extremamente necessário na vida de uma pessoa. Pelo menos de uma pessoa educada na nossa civilização atual. Porém, alguns ainda não aprenderam que este local tão importante é compartilhado e acabam deixando algumas surpresas lá para o próximo usuário.
Mulheres, desde muito pequenas, levam uma vida de aprendizado sobre como utilizar banheiros públicos. Tudo começa com a mãe segurando no colo com todo o cuidado para a criança não sentar no vaso, ao mesmo tempo prestando muita atenção, evitando qualquer movimento brusco, para que a pequena não se mova e acabe espirrando pra todo lado. Lição número um aprendida: não encoste num vaso desconhecido.

Lição número dois: Não tem papel? Ok, é só chacoalhar do jeito certo que dá pro gasto.
E por aí vão as lições...
Conforme o tempo vai passando ninguém precisa mais nos ensinar, vamos aprendendo sozinhas. E hoje eu tenho duas regras essenciais para seguir em banheiros públicos: 


1)      Sempre verificar o estado da lixeira. Quanto mais papel jogado, mais aquele banheiro foi utilizado e maior a probabilidade de sujeira. Escolha a cabine com menos papel na cesta.
2)      Quando a tampa da privada está abaixada, não levante. Não mexa!!! A não ser em situações de extrema necessidade. Faça sempre o possível e impossível para não ser você a levantar a tampa. As chances de encontrar uma surpresa desagradável são gigantescas. 


E foi assim que eu comecei a perceber que algo tão trivial, embora importante, como um banheiro pode nos dar grandes lições.

Hoje eu tento seguir as regras de banheiro nos meus relacionamentos, e se as pessoas também seguissem acho que iriam sofrer menos com “surpresas inesperadas”, até porque nunca é tão inesperado assim. A gente sempre consegue prever algumas coisas. 
Antes de começar um relacionamento tente prestar atenção em quantos “papéis usados” a pessoa tem na vida dela. Quantos ou quantas passaram, foram usados e jogados na lixeira sem dó. Nem sempre a lixeira mais cheia é do banheiro mais sujo, mas a probabilidade é grande. Claro que também nem sempre é possível ter essa noção, por isso é bom conhecer alguém o melhor possível antes de começar algo. Viu, amiguinhos que encontram o amor eterno 12 vezes no ano?!
Mas sem dúvida a regra mais importante de todas é a tampa. E ela pode ser aplicada a tudo.


Se a pessoa é fechada demais, te esconde coisa demais, não tente descobrir! Procure outro vaso.
Se o relacionamento não anda e você não sabe porque, esqueça. Procure outro vaso.
Se as coisas andam bem mas surge a possibilidade de fuçar coisas que não te dizem respeito, não fuce.
Enfim, cuidado com as tampas. Elas estão fechadas por algum motivo. Mas se mesmo assim você quiser arriscar e abrir, fique preparado pra merda.

Amor e outras drogas

terça-feira, 8 de maio de 2012



Não, não farei outra análise pseudo-crítica aqui. O título foi muito mais por falta de criatividade do que qualquer outra coisa ligada à sétima arte.


Cada vez mais me convenço de que o "amor" - ou seja lá qual palavra você prefira usar - poderia um dia ser extraído e destilado como uma droga. Uma droga de verdade. Daquelas que você compra na farmácia ou (espero que não) injete no seu braço, na calada da noite.
Neste momento da madrugada (durante o qual estou escrevendo) até cogito o quão estranho seria abordar este tema como minha tese de monografia. Mas voltando...

Uma vez no nosso corpo, o amor age literalmente como uma droga. Para bom ou para ruim. Dependendo da concentração e forma de uso.
E aí eu só posso chegar a uma conclusão: "Use com moderação. A persistirem os sintomas ou houver sinais de dependência, suspenda seu uso imediatamente".
Em resumo, o amor pode curar quase tudo, mas pode ferrar com tudo também.
E pode ser extremamente perigoso. Uma vez que sua overdose não mata (o sujeito), mas pode transformar-se em coisas que nada tem a ver com amor: ciúme, obsessão, dependência do outro, amargura, dor, brigas sem sentido etc.

E mais uma vez, como uma droga, não existe cura milagrosa. Seu único tratamento é a boa e clássica abstinência. Mas quem dera fosse tão simples quanto essa palavra grande.
É a única droga que causa tamanha dor e que mesmo assim você encontra em todos os lugares, sem sinal algum de desejo de veto, de criminalização por uso, nem mesmo por parte dos abstêmios mais sofredores.
Isso porque - droga maldita - foi criada para dar prazer até na dor.
Enquanto existir no corpo, por mais que seja impossível expressá-la além de lágrimas, seu viciado ainda sente, de alguma forma, alegria. Pois é agora a única forma de estar perto do objeto amado, de senti-lo e ainda poder dizer "amo".

Mas depois de tudo, depois da dolorosa abstinência e vencido o vício, se difere de todas as outras drogas por um pequeno detalhe: a volta do seu uso não é contra-indicada.
Até porque, ao voltar - na maioria das vezes - o usuário já tem certa consciência da posologia correta de uso. Outras vezes, não.
Fazer o que?! Uns gostam da cura. Outros, do prazer intenso e efêmero que só o vício proporciona.

Frases sorvete

domingo, 8 de abril de 2012



Nada é mais falso do que a auto-ajuda de internet, de facebook, de muro da rua etc e tal... Frases motivacionais que lemos por aí, amigos que querem nos botar pra cima, enfim, aqueles momentos de divina sabedoria.
Em 10 minutos no facebook li 3 frases diferentes que querem dizer a mesma coisa:
"Pois tudo aquilo que é realmente nosso nunca se vai para sempre"
"Tudo o que vai volta, e se voltar é porque é feito de amor"
"O tempo não importa... se for verdadeiro é para sempre"


Mas que #$%¨&%$! (Não posso usar palavrão pois ainda são 13h, hoje é um dia santo e este blog não está rastreado para +18). Mas que vontade absurda de usar um palavrão!
Parem! Parem! Parem de usar frases motivacionais prontas para prolongar o sofrimento!!!
É só pra isso que essas $%¨$#%¨ servem! Auto-ajuda uma ova! Para alguém que está na pior, precisando superar algo ou alguém isso nunca vai ser motivacional, nunca vai ajudar. É a mais falsa sensação de esperança do mundo!
A pessoa tá na bad... chorando... ouvindo Sandy e Jr... Lembrando o que deve e o que não deve. Procura uma frase pra ajudar e encontra isso: "Não desista, porque o que é seu ninguém tira". Mas que merda é essa??? (não resisti agora).
A pessoa tá mal, o que tem que acontecer é superar, virar a página, dar a volta por cima, dar move on, sei lá qual a melhor expressão pra isso. A bosta já foi pro ventilador, não tem que "esperar o tempo passar, pois ele vai trazer de volta o que é seu".


"Ahh Colgate... mas tem situações que só precisam do tempo mesmo, porque o amor é maior blabablabla".
Concordo, mínimas situações, raríssimas. 99% das vezes o tempo só vai te ajudar a superar mesmo e não a voltar. Então dê uma chance ao coitado do tempo poder fazer o trabalho dele mais rápido, sem ficar postergando isso.


Frase de auto-ajuda pra mim é: "Ô idiota, se manca! Vai procurar outro galho porque esse macaco aí já tá atrás de outra pra catar piolho!"


Ufa... E este foi o texto de Páscoa de uma pessoa que não aguenta mais ver frases sorvetes. Que são lindas e te fazem feliz por 5 minutos, mas logo em seguida derretem na sua mão.

The Hunger Games - Uma chance

sexta-feira, 30 de março de 2012



Antes de tudo, longe de mim tomar uma posição de pseudo-crítica de cinema. Mas preciso fazer algumas considerações quanto ao filme “Jogos Vorazes” (The Hunger Games, original) que assisti essa semana.

Apenas para um breve entendimento sobre a trama, mas lembrando que é a visão de uma espectadora e não leitora da trilogia, nunca tive qualquer contato com nenhum dos livros, até o momento.
A estória ocorre num futuro (não tão próximo) aparentemente pós-apocalíptico e, dá-se a entender, no que foram os Estados Unidos (novidade!). No início do filme as explicações quanto à condição dos protagonistas ficam em segundo plano, o que me obrigou a fazer alguns questionamentos chave com a minha irmã (ficcionada pela série). Mas basicamente é o seguinte: após um período de guerra o país foi dividido em uma capital e 13 distritos, cada um com sua função na sociedade para estabelecer a “paz”. Num dado momento, o 13° distrito decidiu se rebelar e foi abolido. A fim de manter o controle e supremacia sobre os distritos – em outras palavras, “mostrar quem manda no pedaço” – o governo criou os chamados “Jogos Vorazes”. Uma vez por ano ocorreriam os jogos, em forma de reality show nacional. Eram selecionados em cada distrito um casal de adolescentes, de 12 a 18 anos, no total de 24 competidores para sobrar apenas 1. Só que o “paredão” era manchado de sangue. Em uma espécie de “arena selvagem” eles deveriam se matar da maneira que encontrassem, com facas, flechas, bombas, veneno ou no soco mesmo. Tudo isso sendo assistido pelo país inteiro de suas confortáveis casas hiper-modernas ou por telões espalhados em campos de trabalho que mais lembram campos de concentração nazistas, nos distritos. Ao final do “programa” apenas um competidor deveria sobrar, como recompensa volta livre ao seu distrito com algumas regalias – mas qualquer coisa é regalia numa realidade em que se morre de fome. O intuito disso tudo? “Divertir” os ricos da capital e mostrar aos distritos que o Estado é quem controla, que a rebelião não leva a nada e a única coisa que conseguiram ao lutar foi arriscar a vida dos próprios filhos.
Na 74ª edição dos Jogos a capital é surpreendida por uma jovem que pode começar a mudar o rumo das coisas.

Fim. Vou parar o resumo do filme por aqui, se quiser saber o resto terá que assistir ou ler. Então vamos às considerações:
Com uma pitada de George Orwell e a ideia – perturbadoramente abominante - de adolescentes se matando, a trama tem tudo para fazer uma grande crítica a sociedade e ser um ótimo filme inteligente, mesmo vindo de uma literatura denominada “infanto-juvenil”. Porém, sabe Deus porquê!, a distribuidora está vendendo o filme como um “sucessor da saga crepúsculo” (?) e é aí que a merda toda vai pro ventilador. Poderia ser uma crítica forte, poderia sair do cinema te fazendo pensar, poderia ser um filme para adultos... mas não é. Não sei bem explicar o motivo, mas mesmo envolvida no momento e achando o filme muito bom, de tempos em tempos alguma coisa na tela me puxava de volta à condição de “isso é um filme adolescente”. Não foram os atores, muito bem escolhidos. Talvez um pouco – ou muito – da modernidade fashionista da Capital, exagerada, muitas vezes circense. Não sei como isso era descrito no livro, mas na tela soou infantil. Foi também a “alegria” de alguns competidores por estarem matando outros semelhantes. Compreendo que para alguns personagens ali aquele jogo era o “propósito da vida”, cresceram treinados para aquilo. Mas as cenas em que aparecem sorrindo, correndo, brincando e gargalhando tiraram toda a seriedade do momento.
O romance in front of death também dá um ar juvenil pois é falho na sua razão, embora tenha sim ficado implícito – mas de maneira muito fraca - que não era real de fato, mas pela sobrevivência. Ou para permanecer no jogo por mais tempo – alguém aí sentiu uma leve semelhança com nosso programa global?
Para mim, a melhor fala do filme foi logo no início. Em que a personagem principal, Katniss, diz a um amigo que “os Jogos só existem ainda porque as pessoas assistem”. É o momento mais crítico das mais de 2 horas que passa despercebido para muitos. Quantas coisas absurdas vemos na nossa atualidade e que nem nos damos conta? Coisas que continuam nos sendo oferecidas porque nós mesmos as retroalimentamos.
No final das contas, é uma boa ficção, porém num corpo infantil que espero crescer nas continuações.

E o intuito do meu texto hoje era só pra falar da fina esperança que sinto de que os adolescentes tenham novos heróis literários em que possam estabelecer uma visão mais crítica, mesmo que ainda fraca. Sem dúvida algo que pode ser muito melhor trabalhado do que uma mera high school insossa que tem como objetivo de ‘vida’ parar o coração para estar com um vampiro pela eternidade.