Um papo mórbido

quinta-feira, 4 de abril de 2013


Cemitério Militar - Point Loma, San Diego, CA

Longe de mim querer ficar falando de morte. Quero falar de vida! Quero viver a vida!
No entanto, hoje vi uma notícia interessante – boa, ao meu ver – e de um assunto que eu já discuti algumas vezes em rodinhas aleatórias. A notícia é que já foi obtida a licença de operação do Crematório Regional na minha cidade. Nenhuma outra cidade próxima oferece esse serviço.

Não acredito que esse nosso corpo carnal tenha alguma validade depois que morremos. Morreu. É só um corpo, um pedaço de carne. A alma foi embora.
Pode ser que, ao longo da vida, eu venha a mudar de opinião. Mas hoje, pensando friamente, tenho total desapego ao meu corpo após a morte.
Dessa forma, não vejo nenhuma necessidade de “enterro”. Exceto, obviamente, as necessidades de higiene sanitária. Não vamos largar corpos por aí, ok?
Outro ponto que me deixa contra enterros: é um momento muito, muito triste. É muito doloroso para a família e amigos assistir a uma caixa sendo enterrada com o corpo da pessoa que você ama.
“Ah, Gabriela! Mas queimar o corpinho pode então? Não é triste?”. Não foi o que eu disse. Claro que é triste. A morte é triste pra quem fica, sempre vai ser. A perda é irreparável. Mas, convenhamos que é um momento desnecessário. Na cremação – ao contrário do que alguns desinformados pensam – você não participa do “processo” de cremação em si, não assiste ao corpo ser queimado. Tudo acontece em uma sala restrita. Lembrando que o velório é importante. Os vivos precisam desse momento. Para isso, os centros de cremação também contam com uma “sala de despedida”.
Ainda há preconceito quanto ao processo por falta de conhecimento das pessoas. Alguns acham que você simplesmente manda o morto pra lá e eles queimam.

Até agora levantei motivos subjetivos para a cremação. Mas há outras questões. Já pararam para pensar na questão de espaço? Por mais que eu pense, não consigo chegar num bom motivo pra ocupar um espaço de baixo da terra após a morte, dentro de uma enorme e cara caixa de madeira almofadada (?).
E o impacto ambiental? Um corpo leva em média dois anos e meio para se decompor, restando apenas os ossos. Esse processo de decomposição gera um composto líquido viscoso que pode vazar do caixão e atingir lençóis freáticos, dependendo das condições do cemitério. Humm, gostosinho consumir água contaminada com seu tataravô, né?!

Agora, falando do que realmente importa pra sociedade: o money no bolso.
Além da cremação ter as vantagens citadas acima é também um processo mais barato do que o enterro. Um jazigo comum, para quem não tem plano funerário, custa em torno de R$3900,00. O preço da cremação fica entre R$2,5 mi e R$5 mil (*).

E pra não dizer que eu não falei das flores, depois de tudo isso você ainda tem três opções para as cinzas: pode enterrar, pode comprar uma urna bonita e guardar ou pode até mesmo jogar em algum lugar importante para a pessoa em vida, como ato simbólico.

Em resumo, aproveitando o momento para deixar registrado: por favor, quando eu morrer quero que doem tudo o que for possível (desde órgãos em bom estado até cabelo pra fazer peruca, pincel etc) e o resto mandem para a cremação. O destino das cinzas, fica à sua escolha!

PS: um dos meus filmes favoritos da vida e que também fala sobre esse assunto, recomendo como inspiração de amor e superação: Tudo acontece em Elizabethtown

(*) Dados do Crematório Regional de Bauru