Ei! Tem alguém aí?

terça-feira, 28 de agosto de 2012



[...]
"Se Deus existe, quem é ele? E se não existe Deus, o que é o universo?"

Levei muito tempo refletindo sobre essas perguntas. Se existe um deus que criou o universo inteiro, quem ele é? Ou o que é ele? E onde estará ele? Mas se o universo é independente, então o que é o universo?

"No que você acredita?", perguntei de novo.
Mika fez uma profunda reverência.

"Não tenho tanta certeza de que o universo é obra do acaso."

"Mas você acredita num deus que fez tudo?"
Ele fez outra reverência. Depois perguntou:

"Você promete aceitar minha resposta simplesmente como uma resposta?"

"Claro que sim!"

Achei que ele estava querendo dizer que eu deveria considerar sua resposta apenas uma resposta. Ou seja, lembrar que uma resposta sempre vale muito menos do que uma pergunta.
Seus olhos cintilaram rápidos.

"A força da gravidade faz um planeta girar em torno do seu sol. E a Lua atrai o mar, originando a maré alta e a maré baixa."

Disso tudo eu já sabia. Mas então ele saiu com esta:

"Você não acha que deve haver também uma força que nos puxou para fora dos oceanos, e nos deu olhos para ver e cérebro para pensar?"

Não tinha a menor ideia do que responder. Limitei-me a dar de ombros. Mika disse por fim:

"Às vezes penso que as pessoas que não acreditam nisso devem ter um sentido importante a menos."
[...]





Trecho do livro Ei! Tem alguém aí?de Jostein Gaarder.

Relacionamentos ioiô

terça-feira, 14 de agosto de 2012



Se tem um tipo de relacionamento que eu nunca entendi são os relacionamentos ioiô, ou bumerangue, ou qualquer outro tipo de objeto lúdico que você queira usar para descrever. Pessoas que “vão e voltam”, você nunca sabe se estão juntos.
Não estou falando de pseudo-relacionamentos. Não é sobre pessoas que ficam, se divertem por um tempo e depois somem. O “ir e vir” em pseudo-relacionamentos antes de se estabelecer faz parte do processo.
Estou falando sobre os relacionamentos “sólidos”, com status no facebook, porta-retrato no quarto e almoços em família. Quando esses lindos casais Doriana estão mais para chocolate fora da geladeira, que derrete e endurece até estragar. 

Talvez porque eu nunca tenha vivido essa situação, simplesmente não faz sentido.
Em geral, é fácil identificar esses casais. Quando há mais brigas do que momentos agradáveis, mais cobranças do que abraços e mais ciúmes do que respeito é porque tem algo de errado. Depois de um leve showzinho, termina. Após dois, três, quatro dias, em alguns casos uma semana, a raiva passa. Aí, reata.
Amigo, o que passou foi a raiva, o momento, o ciúme fervendo na veia naquela hora. Mas os problemas não foram resolvidos.
Promessas de amor e “sexo de reconciliação” não resolvem o que tem de errado.

Quem sou eu para julgar o sentimento de alguém? Não duvido que possa haver paixão, mas quando vejo casos assim, quase sempre chego na mesma conclusão: eles parecem estar juntos pelos motivos errados.
Casais que não conseguem permanecer juntos por 6 meses consecutivos, sem terminar, tem algo de estranho. Casais que não conseguem fazer isso por 3 meses tem algo de muito estranho.
Afinal, você está num relacionamento ou num campo de batalha?

Há anos me pergunto qual a graça nisso. É mais emocionante? Cada vez que volta reacende alguma coisa? Me desculpe, mas se alguém precisa terminar para encontrar emoção, tem algum sentimento ou ideia muito torta no meio disso.
Na adolescência via amigas jogando a aliança na cara do namorado umas duas vezes por mês. Achava que era coisa da idade, hormônios à flor da pele e namorinho de criança. Triste é que continuo vendo isso acontecer com adultos de 25 ou 30 anos. Claro, o arremesso de aliança se torna muito menos frequente depois de certa idade, mas o vai e vem é o mesmo.

Perguntando a algumas pessoas o que elas achavam sobre o assunto, recebi respostas muito radicais, como por exemplo “quem faz isso é tosco” ou “quando termina uma vez, não tem mais volta de verdade, fim”.
Acho que é de consenso geral que esse vai e volta soa como imbecilidade e imaturidade. Mas, por que é tão comum, mesmo com pessoas que estão verdadeiramente dispostas? Deve existir alguma outra razão. Recuso-me a aceitar viver num mundo em que “eu te amo” e “não consigo mais olhar na sua cara” possam estar em equilíbrio entre duas pessoas.  

Numa realidade em que as relações se tornaram tão banalizadas. Com tanta falta de respeito pelo outro, em que relacionamentos instantâneos são criados em baladas e quatro semanas junto é quase uma vida. Fica difícil para alguns manterem o bom senso até quando decidem, por vontade própria, estar com outro oficialmente.

Não acho que eu seja um “exemplo de maturidade”, mas sou sempre a favor da paz. Não sou de brigas e não acho que brigar seja algo normal.
Concordo que algumas discussões fazem parte de um relacionamento, mas o foco deve ser encontrar o problema e resolver. A discussão vira “briga” a partir do momento em que o foco é insultar ou machucar o outro, ou apenas “jogar as verdades na cara”.

Continuo não entendendo o que leva um casal a terminar e voltar tantas vezes. Mas se as brigas são os catalisadores do ioiô, só o que posso fazer é recomendar suco de maracujá e sessões de yoga.

O padrão do fim

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Até os diálogos do fim seguem um padrão

Engraçado como muitas coisas na vida seguem padrões. E nós não aprendemos nada com eles.
Acho que faz parte da essência humana ser tão limitada.
Dizem que Einstein disse uma vez que "Loucura é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes".
Então acho que somos todos loucos.

Fins de relacionamentos - e pseudo-relacionamentos - também seguem alguns padrões. Ocorrem todos da mesma forma. E nós sempre agimos como se fosse a primeira vez. Algumas vezes com mais intensidade do que outras, concordo.
Mas é interessante notar alguns detalhes. Uma das partes sempre sai aliviada. E não digo isso em tom pejorativo. Acontece que da mesma forma que "quando um não quer, dois não brigam", também é válido para "quando um não quer, dois não beijam".
Infelizmente, relacionamentos são seres com alelos dominantes para o não. Isso significa que, por mais que você acredite com todas as suas forças que o outro é o amor da sua vida, se ele disser "não", fim. Você não tem voz ativa. O seu "sim" é recessivo e isso nunca vai mudar. Por isso, o dono do não sempre vai sair aliviado. Não é por mal, mas ninguém quer ter a responsabilidade da felicidade de outro que não deseja mais sobre as suas costas.
Já o dono do sim... Bom, esse é o coitado que reage da mesma forma como todos os outros quando levam um pé na bunda, mas é limitado demais pra enxergar isso e fazer alguma coisa diferente. De qualquer forma, talvez toda a sequência padrão seja mesmo necessária.
Entre os atos mais comuns estão (em ordem cronológica):

  • Tentar convencer o outro - Sempre uma péssima ideia. Se o outro teve culhões pra te jogar um não, a insistência normalmente só dá mais certeza da decisão.
  • Isolar-se do mundo - O menos aceito pela sociedade e os amigos. Acham que você está "depressivo demais" ou "chato demais" ou só quer atenção. Mas é importante ter um tempo pra colocar as ideias no lugar, aceitar o fim.
  • Achar que nunca mais vai conseguir gostar/amar alguém - Esse é muito comum. E muito engraçado. Existem mais de 7 bilhões de pessoas no mundo. Sério que você acha que não vai se apaixonar de novo? Sério. Esse é um dos pontos mais relevantes do fim. E não deve ser levado como uma brincadeira. Você tem todo o direito de se sentir assim, isso significa que o seu sentimento é muito lindo e puro. Mas tente botar o pé no chão. A euforia do sentimento vai passar e depois de um tempo você mesmo irá rir de ter pensado assim.
  • Dizer que cansou de relacionamentos, que nunca mais vai se envolver com ninguém - Acho que esse é o meu preferido. Porque é mentira. É muito fácil falar isso quando tudo o que se enxerga é o outro e ninguém mais. Mas com o tempo conhece novas pessoas, surgem novas oportunidades e o "nunca mais" vai direto pelo ralo.
  • Começar a ignorar ou tratar mal o outro - Para algumas pessoas é inaceitável a ideia de não ser mais desejada, é inaceitável que o outro não queira mais. Um insulto. Tenho dó dessas pessoas. Porém, outras dão um sumiço simplesmente porque qualquer tipo de contato seja doloroso demais. Não destrate o outro porque não te quer mais, é direito dele. Mas, se você quer cortar relações, corte. É um direito seu.
  • A "piriguéty" e o "pegador" - O próprio nome já diz. Quando a pessoa quer se mostrar tão desencanada em alguém que resolve mostrar isso até demais, pra todo mundo. Considero esse um padrão totalmente desnecessário. E é importante que você tenha um(a) amigo(a) que te diga que isso é muito feio, mocinho(a).

Enfim, cada relacionamento é de um jeito. Mas são todos iguais. As pessoas é que são diferentes, as fases são diferentes, as expectativas, os desejos, os anseios. Só precisamos aprender a aceitar essas diferenças e dar uma nova chance até mesmo pro fim. Tentando mudar os nossos padrões de vez em quando.