Resenha de leitura - Trilogia Divergente

terça-feira, 16 de setembro de 2014



Nos últimos meses eu desenvolvi um amorzinho por leituras young adult, pelo simples prazer da leitura agradável. Isso quer dizer que eu procuro não ser muito crítica com relação a esses livros e simplesmente aceitar o que a história me traz. Em geral, são leituras rápidas e agradáveis.

Algumas pessoas têm com o que eu chamo de “orgulho literário” e ficam cheios de querer encher o peito na hora de falar que não leem determinado livro ou repetem o quanto adoram aquele autor inglês do século 19.
Eu não tenho vergonha de dizer que já li, leio e lerei livros como Crepúsculo, 50 tons de cinza e outros best sellers sem muito conteúdo. Também não tenho vergonha de dizer que gostei, no que eles se propõem, como uma leitura de passatempo. Não acho que isso limita o meu gosto literário. Como também não espero destes livros nenhuma “reflexão para a vida”. De qualquer forma, existem vários young adults que tem feito seu papel muito bem como ficção crítica, como é o caso de Jogos Vorazes, por exemplo.
A série Divergente foi uma das minhas escolhas de leituras de férias para julho passado. Assisti ao primeiro filme no cinema, achei que os livros podiam ser uma leitura agradável e não me enganei. São três livros longos, mas que seguem uma linha de leitura bastante fluída. Como eu estava de férias e tinha bastante tempo, li os três muito rápido.

A história é uma distopia. Num futuro, após situações de guerras desconhecidas, o “mundo” está dividido em facções que cooperam para o bem e o equilíbrio da sociedade como um todo. Mas uma garota de 16 anos será a protagonista de um conflito e um segredo que colocará em risco a sociedade como todos conhecem. Humm, isso soa familiar? Sim!
Eu realmente não gosto – e não vejo sentido – de ficar comparando livros. Mas é realmente inevitável comparar a série Divergente com a série Jogos Vorazes. Claro que cada um tem suas particularidades e dramas, mas o pano de fundo para o desenvolvimento é o mesmo.
Eu, particularmente, gostei muito mais de Jogos Vorazes. Na verdade, como já comentei acima, acho que ele traz um contexto crítico muito mais forte (especialmente o primeiro livro) e personagens mais complexos e melhor construídos. Então, se você não leu nenhuma das duas séries e se interessou, sugiro que pare por aqui e busque Jogos Vorazes primeiro.

Mas falando das particularidades de Divergente. A sociedade é dividida em cinco facções – Abnegação, Audácia, Amizade, Erudição e Franqueza – em que cada uma tem seu papel político e social na estrutura da cidade, ou seja lá onde eles pensam que estão. Cada jovem deve definir qual será sua facção pelo resto da vida aos 16 anos. Para isso, é feito um teste de aptidão que indica uma das facções, mas cada um tem “liberdade” de fazer sua escolha pessoal, independentemente do resultado do teste. “Liberdade” entre aspas, pois se após a escolha a pessoa não se adaptar ao estilo de vida da sua nova facção ela é convidada a se retirar (uma forma delicada de dizer “expulso”) e se torna um “sem-facção”, que basicamente é a escória, não possuem nenhum papel social e vivem de esmolas e ações de caridade feitas pela Abnegação.

Beatrice Prior é uma garota cheia de complexos devido à sua criação reprimida no setor da Abnegação e tem uma surpresa ao fazer o seu teste de aptidão: ela se encaixa em três facções diferentes. Por sorte, quem fez sua avaliação resolve “ajudá-la” dizendo: “Você se encaixa em três facções e não apenas uma. Pessoas assim são chamadas Divergentes. Isso é muito perigoso. Não conte para ninguém sobre isso e vá para casa agora!”.
Ótimo, para uma menina que já era cheia de complexos, agora ela é um tipo de aberração perigosa e nem sabe o porquê.
Em resumo, mesmo vivendo com a culpa constante pela decepção de seus pais, ela escolhe ir para a facção da Audácia. Seus membros, além de serem a polícia local e vigiarem os muros da cidade, vivem basicamente para correr perigos desnecessários, escalar paredes e pular de trens.
Quando Tris (Beatrice) passa pelos muros da cidade, numa excursão com a sua facção, se dá conta de que os portões são trancados pelo lado de fora e não pelo lado de dentro. Então, seja lá o motivo de terem construído os muros, foi para mantê-los lá e não evitar que algo entre. Não vou entrar no conflito principal do primeiro livro, mas essa informação é o suficiente para que se dê todo o resto da história.
O segundo livro (Insurgente), embora seja longo, com 511 páginas, é quase um livro intermediário e apenas isso. A autora optou por enrolar e criar mais alguns mini conflitos na história apenas para que fosse uma trilogia, mas essencialmente era possível permanecer na mesma história com apenas dois livros. Mesmo assim, como a leitura é agradável e rápida, fico feliz por ela ter dado 500 páginas a mais de presente.
Apenas no último livro a história dá uma reviravolta e fica mais interessante novamente e é onde a autora tenta nos enfiar uma crítica ao mundo moderno, mas não acho que deu muito certo. De qualquer forma, promete um fim surpreendente e empolgante.

Por que eu gostei? Gosto de distopias, gosto de mistérios e gosto de livros que me deixam curiosa com o passar da leitura.

Por que eu não gostei? Mesmo que a construção da Tris tenha sido de forma a criar uma garota forte e corajosa ela ainda se encaixa muito nos padrões de personagens adolescentes “feia-complexada-apaixonada”. Não tenho problema nenhum quanto a isso, porque afinal, ela é, de fato, uma adolescente de 16 anos apenas. Só que não consigo evitar que isso me incomode. Tem algumas horas que ela quase idolatra o Tobias e dá vontade de gritar “Vai minha filha, você tem problemas maiores pra resolver agora!”. Mas talvez isso seja apenas porque eu gosto muito da construção da Katniss, de Jogos Vorazes. Que, embora traga uma pseudo-história romântica em forma de triângulo, nenhuma das atitudes ou pensamentos da Katniss foram no sentido romântico, ela sim é uma personagem muito forte.

Enfim, falei demais. Mas acho que o que queria dizer mesmo é que recomendo esta série, mas com o cuidado de se deixar bem aberto ao que ela traz. É um bom livro.

Títulos: Divergente (livro 1), Insurgente (livro 2) e Convergente (livro 3)
Autora: Veronica Roth
Editora: Rocco

Páginas: 502 (livro 1), 511 (livro 2) e 526 (livro 3).

E aí, beleza? - Parte I

quinta-feira, 4 de setembro de 2014



PRÓLOGO (sim, eu quero um prólogo no meu texto, ok?)

Eu normalmente levo de duas a três horas entre escrever um texto, revisar, revisar, revisar e finalmente postar. Mas comecei a escrever este texto há três semanas. Primeiro escrevi metade e desisti de terminar, mas então começaram a pipocar assuntos e discussões que me fizeram mudar de ideia.
Particularmente acho muito difícil falar sobre beleza em todos os seus sentidos. Por isso, este texto fica dividido em duas ou mais partes e por ora fico apenas na introdução de tudo o que quero falar sobre o assunto.



Certa vez, há muito tempo, o ex-namorado de uma amiga engatou um novo namoro pouco tempo após o término. E minha amiga - que para facilitar chamarei de Joana -, revoltada com a situação, veio me chorar as pitangas. Não julgo a coitada. Isso é bastante comum. Sempre tem alguém que dá "move on" primeiro e o outro fica lá, com aquela sensação de impotência. Mas o interessante mesmo foi a conversa que tivemos

Como qualquer outra pessoa que se sente traída com o fim do relacionamento, ela achava muito mais fácil descontar toda a raiva sobre a nova namorada do que sobre o ex. E me disse na conversa: "Eu não acredito que ele está com aquela menina escrota. Ela é muito feia. Na verdade ela é feia pra #$%!@ (use aqui seu palavrão favorito). É... Ele deve estar muito apaixonado mesmo, o amor é cego!".

A verdade é que eu não achava a tal menina feia. Mas não achei que aquele era um bom momento para discordar da minha amiga. Joana era mais bonita, é verdade, mas no sentido estereotipado de padrão de beleza. O que, obviamente, não tornava a outra feia de verdade.

Então parei para refletir sobre a expressão comum - e que tem até filme com o seu nome: "o amor é cego". O amor é cego? Será mesmo?
Não entrarei nos méritos dos motivos para o fim do relacionamento de Joana. Nem me lembro mais dos detalhes. Mas por que será que ela não reagiu de forma mais madura naquela situação do que simplesmente julgar algo tão superficial? Poderia ter levantado tantas coisas, refletido sobre tantas coisas. E mesmo com todas as possibilidades, o que a destruiu por dentro foi o pensamento de "como ele pode ter me trocado, eu sendo tão linda, por alguém tão feia?".

Uma outra situação parecida que vivi sobre o assunto foi mais pessoal. Quando eu e meu namorado oficializamos o relacionamento, a ex dele publicou um meme no facebook que dizia (não me lembro as palavras exatas): "Soube que meu ex já está com outra. Mas daí vi que ela é feia e que a vida se vingou por mim".
Não sei, acho que eu poderia ter ficado chateada ao ler isso, talvez essa fosse até a intenção. Mas, na verdade, eu achei tão engraçado que só consegui rir mesmo.

Até onde eu sei, a vida não é um concurso de beleza. Pelo menos eu nunca perdi ou ganhei nada por ser mais feia ou mais bonita que alguém.
Então por que algumas pessoas ainda acham que isso vale alguma coisa?
Que tipo de vingança a vida me deu, se mesmo depois de tanto tempo eu continuo tão feliz?
Por que o amor é cego, se vemos a vida de forma tão mais clara e ampla quando estamos apaixonados?

Tenho certeza, já aconteceu com todo mundo, pelo menos uma vez na vida, de conhecer alguém que parecia "feio" a primeiro momento e depois se tornou lindo.

A beleza padronizada, velada em maquiagens e roupas caras só te serve para fotos e a paquera na balada. Depois de algum tempo você precisa ter algo a mais para oferecer.
E ahhh, como há feios belos neste mundo!!