The Hunger Games - Uma chance

sexta-feira, 30 de março de 2012



Antes de tudo, longe de mim tomar uma posição de pseudo-crítica de cinema. Mas preciso fazer algumas considerações quanto ao filme “Jogos Vorazes” (The Hunger Games, original) que assisti essa semana.

Apenas para um breve entendimento sobre a trama, mas lembrando que é a visão de uma espectadora e não leitora da trilogia, nunca tive qualquer contato com nenhum dos livros, até o momento.
A estória ocorre num futuro (não tão próximo) aparentemente pós-apocalíptico e, dá-se a entender, no que foram os Estados Unidos (novidade!). No início do filme as explicações quanto à condição dos protagonistas ficam em segundo plano, o que me obrigou a fazer alguns questionamentos chave com a minha irmã (ficcionada pela série). Mas basicamente é o seguinte: após um período de guerra o país foi dividido em uma capital e 13 distritos, cada um com sua função na sociedade para estabelecer a “paz”. Num dado momento, o 13° distrito decidiu se rebelar e foi abolido. A fim de manter o controle e supremacia sobre os distritos – em outras palavras, “mostrar quem manda no pedaço” – o governo criou os chamados “Jogos Vorazes”. Uma vez por ano ocorreriam os jogos, em forma de reality show nacional. Eram selecionados em cada distrito um casal de adolescentes, de 12 a 18 anos, no total de 24 competidores para sobrar apenas 1. Só que o “paredão” era manchado de sangue. Em uma espécie de “arena selvagem” eles deveriam se matar da maneira que encontrassem, com facas, flechas, bombas, veneno ou no soco mesmo. Tudo isso sendo assistido pelo país inteiro de suas confortáveis casas hiper-modernas ou por telões espalhados em campos de trabalho que mais lembram campos de concentração nazistas, nos distritos. Ao final do “programa” apenas um competidor deveria sobrar, como recompensa volta livre ao seu distrito com algumas regalias – mas qualquer coisa é regalia numa realidade em que se morre de fome. O intuito disso tudo? “Divertir” os ricos da capital e mostrar aos distritos que o Estado é quem controla, que a rebelião não leva a nada e a única coisa que conseguiram ao lutar foi arriscar a vida dos próprios filhos.
Na 74ª edição dos Jogos a capital é surpreendida por uma jovem que pode começar a mudar o rumo das coisas.

Fim. Vou parar o resumo do filme por aqui, se quiser saber o resto terá que assistir ou ler. Então vamos às considerações:
Com uma pitada de George Orwell e a ideia – perturbadoramente abominante - de adolescentes se matando, a trama tem tudo para fazer uma grande crítica a sociedade e ser um ótimo filme inteligente, mesmo vindo de uma literatura denominada “infanto-juvenil”. Porém, sabe Deus porquê!, a distribuidora está vendendo o filme como um “sucessor da saga crepúsculo” (?) e é aí que a merda toda vai pro ventilador. Poderia ser uma crítica forte, poderia sair do cinema te fazendo pensar, poderia ser um filme para adultos... mas não é. Não sei bem explicar o motivo, mas mesmo envolvida no momento e achando o filme muito bom, de tempos em tempos alguma coisa na tela me puxava de volta à condição de “isso é um filme adolescente”. Não foram os atores, muito bem escolhidos. Talvez um pouco – ou muito – da modernidade fashionista da Capital, exagerada, muitas vezes circense. Não sei como isso era descrito no livro, mas na tela soou infantil. Foi também a “alegria” de alguns competidores por estarem matando outros semelhantes. Compreendo que para alguns personagens ali aquele jogo era o “propósito da vida”, cresceram treinados para aquilo. Mas as cenas em que aparecem sorrindo, correndo, brincando e gargalhando tiraram toda a seriedade do momento.
O romance in front of death também dá um ar juvenil pois é falho na sua razão, embora tenha sim ficado implícito – mas de maneira muito fraca - que não era real de fato, mas pela sobrevivência. Ou para permanecer no jogo por mais tempo – alguém aí sentiu uma leve semelhança com nosso programa global?
Para mim, a melhor fala do filme foi logo no início. Em que a personagem principal, Katniss, diz a um amigo que “os Jogos só existem ainda porque as pessoas assistem”. É o momento mais crítico das mais de 2 horas que passa despercebido para muitos. Quantas coisas absurdas vemos na nossa atualidade e que nem nos damos conta? Coisas que continuam nos sendo oferecidas porque nós mesmos as retroalimentamos.
No final das contas, é uma boa ficção, porém num corpo infantil que espero crescer nas continuações.

E o intuito do meu texto hoje era só pra falar da fina esperança que sinto de que os adolescentes tenham novos heróis literários em que possam estabelecer uma visão mais crítica, mesmo que ainda fraca. Sem dúvida algo que pode ser muito melhor trabalhado do que uma mera high school insossa que tem como objetivo de ‘vida’ parar o coração para estar com um vampiro pela eternidade.

Religião e blablabla

quarta-feira, 21 de março de 2012



Hoje por acaso acabei caindo na página da ATEA (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) no facebook e o que eu li me incomodou tanto, tanto, que precisei escrever.
Não vou falar sobre minha posição como cristã - a qual existe e se por acaso interessar pode me perguntar que vou discorrer com prazer. Mas gostaria de tomar uma posição como cidadã, como uma pessoa com bom senso e que preza não apenas os próprios pensamentos, mas também os pensamentos alheios.
Religião, política e futebol são assuntos que nunca acabam bem em uma discussão.
Religião eu gosto de falar, mas sempre procuro ter a permissão do ouvinte para tal.
Política eu não me interesso, não por alienação, mas por falta de motivação.
E futebol, esse eu assumo que conheço muito pouco.

De tudo o que li, o que mais me incomodou na página da ATEA foi o fato das pessoas quererem levantar uma bandeira pelo puro prazer de ir contra algo. Após vários comentários e publicações, a única conclusão que eu cheguei foi a de que (a maioria) dos membros não são ateus ou agnósticos, são simplesmente anti-cristãos.
Cada um tem o pleno direito de acreditar em algo ou não acreditar em nada. Mas procurar através disso um motivo para ofender quem crê é dar um passo atrás ao que chamam de "evolução".
Acho válido uma associação para ateus e agnósticos, afinal são pessoas que (supostamente) partilham de ideias comuns. No entanto, acho mais válido ainda que façam algo de bom com isso. Se o intuito é mostrar que "o mundo não precisa de um deus", então que mostrem às outras pessoas o que podem acrescentar à sociedade sem ter uma crença. Mas a única coisa que sabem é - como trogloditas - procurar piadas e mais piadas, ofensas e mais ofensas.

Eu sou cristã. Não acredito, por exemplo, em Ganesha. Mas nem por isso eu - em momento algum - me voltaria a um hindu e diria "Nossa, como é ridículo acreditar em um deus que tem cabeça de elefante, corpo de homem e usa como meio de transporte um rato! Você não pode ser uma pessoa inteligente!".
Calma lá, meu amigo! Eu até posso achar ridículo, mas isso não me dá o direito de zombar daquela crença, muito menos de medir a capacidade intelectual da pessoa.

Entendo que o cristianismo, ou a religião em geral, hoje é muito banalizado e tratado - muitas vezes dentro da própria igreja - de uma maneira que só dá descrédito. Como cristã fico triste com isso. Mas como tantos "ateus", "agnósticos", amantes de buda ou sabe lá, querem criticar a imagem de algumas instituições e algumas pessoas, eu espero que, já que querem ser críticos, que sejam também sensatos. Espero que entendam que, embora alguns tratem a igreja como um "negócio" e alguns esperam em Deus como o "gênio da lâmpada", há também os que vivem e morrem por uma crença que eles não entendem. Há os pastores que pregam o amor e não a conta bancária. E há os que não se cegam para a ciência só porque acreditam em Deus.

Acreditar em algo é uma das opções humanas. E não respeitar essa opção é o que coloca alguém abaixo de toda a fauna.

"Mas espero que ainda dê tempo..."

segunda-feira, 5 de março de 2012


“Desculpe,
Estou um pouco atrasado
Mas espero que ainda dê tempo
De dizer que andei errado
E eu entendo [...]”

Dentre muitas das capacidades e incapacidades humanas o perdão se destaca e é o que separa os meninos dos homens – ou as meninas das mulheres, pra não haver descriminação.
Incrível como é comum ouvirmos algumas pessoas dizerem “não, isso é imperdoável”. É claro que é doído, tanto para quem pede, quanto para quem dá. Se fosse algo simples, se a vida fosse simplesmente recheada de situações que você “pode ou não pode” perdoar, não seria necessária uma palavra apenas para isso.
O problema é que o perdão é encarado como uma escolha e não como uma capacidade. É claro que você pode escolher perdoar alguém ou não, juntamente com essa escolha vem o peso, o ressentimento, a raiva, a falta de amor e toda a bagagem de amarguras, mas é uma escolha consciente. No entanto taxar como “imperdoável” é querer tirar de si a responsabilidade de não aceitar.
Quem trata o perdão como uma incapacidade são os mesmos que fazem do mundo um lugar mais cinza. São os mesmos que não distribuem sorrisos, porque o coração está fechado.
Não é fácil, nunca vai ser. Mas aí está a graça. Não tem nada a ver com a maçã do topo ou qualquer estorinha. Apenas porque a dor é que mostra a importância daquele sentimento.
Longe de mim banalizar os clichês de “todo mundo erra” ou “errar é humano”, mas clichês estão aí pra isso, todo mundo sabe que é verdade. Não que a proporção e consequência dos nossos erros sejam as mesmas. Mas por que amargar a vida de alguém que está arrependido?

Pare de segurar um abraço por orgulho. Pare de guardar um "me desculpe?" por birra.
Pare!