Se for se apaixonar, não beba.

domingo, 28 de outubro de 2012


"De todas as maneiras de perder a dignidade, se apaixonar é a pior delas."

Li (e compartilhei) essa frase da página "Coruja Depressão", no facebook. Há dias, semanas, meses, tenho procurado um termo que descreva as nossas merdas reações quando nos apaixonamos.
E é isso, é exatamente isso: perdemos a dignidade. Muito mais do que quando bebemos, diga-se de passagem. Por isso bebida e paixonite não combinam, fica a dica.

Não estou falando de "amor pra vida toda", nem da "outra metade da laranja". Apenas de paixão avassaladora.
E não importa quão racional você seja, quão culto, quantos diplomas tenha, se possui uma alma filantrópica, se ganhou o prêmio Nobel. Não adianta, em algum momento vai meter os pés pelas mãos e tomar alguma atitude que em sã consciência seria inconcebível. Algo que não é "você".

São aquelas histórias que ouvimos os outros contando e falamos "que menina louca!" ou "esse cara tem problema!".
Mas todos nós temos histórias ridículas para nos lembrarmos, momentos em que a nossa dignidade estava lá, se arrastando no chão, toda suja de lama.

Foi aquele momento que você ligou pro seu ex-namorado às 2h da manhã, mesmo depois de ter ouvido dele que estava tudo acabado.
Aquela situação constrangedora em que você deu um presente caro para a menina que nunca nem beijou, na frente de toda a família e a mãe leu o bilhete romântico antes dela. 
O galinha que te traiu de todas as formas possíveis e você voltou com ele, mesmo tendo jurado de pé junto que nunca mais queria ver nem pintado de ouro.
Aquela vez que você chorou na frente dele/dela, depois de 1 hora e 47 minutos de discussão, implorando "não me deixe!".
Quando você diz pra todo mundo que já superou, mas abre o facebook dele/dela 38 vezes por dia e o seu melhor amigo te pega no flagra.
Quando você inventou que estava doente e às 11h da noite ligou pro coitado te levar no hospital, só pra fazer chantagem emocional (acredite, já vi essa situação acontecer. E mais de uma vez!).
Também teve aquela vez que a melhor amiga da sua ex te ligou de madrugada, pedindo pra ir até lá porque a coitada bebeu todas e só fica falando o seu nome, abraçada com a privada.
E o nosso amigo Ted Mosby, que roubou um trompete azul e disse "eu te amo" no primeiro encontro... E vomitou no carpete de entrada depois de afogar as mágoas!
E por aí vai... São infinitas as possibilidades de acabar com a sua moral quando se está apaixonado.

Depois ficamos envergonhados. Muito envergonhados. Quando a racionalidade volta ao seu lugar e nos damos conta de como fomos ridículos. Cadê o amor próprio? Cadê o orgulho? Cadê a dignidade? Cadê?

Achamos que a outra parte vai rir pelas nossas costas para sempre. E que foi a nossa pequena atitude que arruinou tudo, tudo! Mas a verdade é que, neste quesito, ninguém pode jogar pedras. Todo mundo já teve alguma atitude constrangedora da qual se arrepende e não teria tomado se tivesse pensado duas vezes. Concordo, algumas são - muito - mais constrangedoras do que outras. Mas com a paixão a gente não pensa duas vezes. É um sentimento dominador, por isso perigoso.

E é extremamente importante que cometamos estes erros, estas atitudes ridículas e impensadas. Pois se aprende muito com elas, dificilmente comete-se as mesmas novamente. Comete-se outras.

E no final, o que temos é um monte de histórias bobas e engraçadas pra contar. Engraçadas sim, porque a paixonite passa e o que foi um arrependimento enorme um dia, vai acabar sendo só uma lembrança.

Pare pra pensar: quais foram as atitudes que te fizeram perder a dignidade, agir como se não fosse você?

Home alone

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


Nina, no papel "Gabriela e suas duas baratas"


Abril de 2009. Era a primeira vez que ia dormir completamente sozinha no novo apartamento, as meninas tinham ido viajar e eu garanti que ficaria bem. Doce ilusão. Ribeirão Preto já estava naquela época do ano de fazer as quatro estações num dia só. No meio da tarde um calor latejante, no meio da noite o inferno gelado. Morava no último andar e meu namorado chegaria na manhã seguinte, o que poderia dar errado? Tudo.
 
Fiquei à toa na internet até às 2 da manhã e já estava quase no estado zumbi alfa 2.0 quando resolvi ir para a cama. Achei que estava tudo bem, que eu tinha sobrevivido 100% à minha primeira noite naqueles poucos metros quadrados. Mas meu apartamento era inteiro de forro. E o que eu não sabia era que este mesmo forro fora feito com a madeira proveniente da árvore do quintal de Hitler e que estava lá apenas para o meu sofrimento, guardando-me algumas surpresas.
 
Maldita a hora que resolvi manter meus hábitos higiênicos noturnos. Já se passava das duas, eu poderia muito bem ter ido dormir e deixado para escovar os dentes na manhã seguinte, mas não. Chegando ao banheiro, estava lá, bem na minha frente, me olhando, mexendo as antenas para lá e para cá. Imóvel, estava tentando me enganar, como se eu não soubesse que ela poderia se mover na velocidade da luz a qualquer momento e voar para dar o bote. Voar!
 
Eu estava tão feliz, minha primeira noite! E em plena madrugada de uma sexta-feira, com tantas coisas boas a se fazer, me encontrava presa num micro banheiro com aquele ser das trevas horrendo.
Na minha mente tudo se passou em câmera lenta, mas, por reflexo, consegui fechar a porta antes que seu pequeno cérebro de barata pudesse reagir e resolver me perseguir. Quando achei que nada mais podia dar errado, a maçaneta estava enroscada. Isso significava que eu precisaria abrir a porta novamente para desenroscar antes de fechar direito, mas eu não podia me arriscar. Com uma faixa consegui prender a porta do banheiro ao armário e a única coisa que encontrei para vedar o vão do chão foi a minha toalha de banho, coitadinha da minha toalha.
 
Foi nesse momento que respirei fundo e entrei em desespero total. Eu nunca ia dormir com aquele monstro a apenas uma porta de separação. Ela com certeza conseguiria se esconder e me observaria por dias até encontrar outro momento em que eu estivesse vulnerável, aliás, acredito que já estava fazendo isso há algum tempo. Mesmo assim, decidi ser macho e disse a mim mesma que eu poderia aguentar. Minutos depois estava na minha cama em posição fetal, sem coragem de apagar a luz, observando fixamente a porta do banheiro, respirando fundo, até que... Na parede oposta noto um leve movimento e aí já era tudo. Ah não! Outra não! Por que, Deus???
 
Já não segurava mais as lágrimas e dei um grito que provavelmente deve ter acordado todos os vizinhos.
Não conhecia ninguém no prédio, tinha me mudado a menos de 2 meses! Como eu poderia tocar a campainha de um completo desconhecido em plena madrugada? Liguei para um amigo que morava a uns 10 quarteirões e em meio aos soluços expliquei a situação. Ele, como um bom amigo, fez o que qualquer outra pessoa que me ame tanto faria na sua posição: morreu de dar risada. Reforcei – muito seriamente – que não estava brincando e que precisava que ele fosse até lá matar os monstros. É claro que fiquei com dó, 10 quarteirões a 10°C. Mas eram duas baratas e eu, não tinha outra opção.
 
Esperei na portaria e pouco tempo depois meu amigo chegou embrulhado num edredom, com olhos vermelhos de sono e rindo da minha cara de choro. Entrou no meu quarto como um herói armado para me livrar do sofrimento. A primeira barata ele concordou que realmente tinha um tamanho avantajado. A segunda barata era na verdade uma linda lagartixa que ficou morando comigo por um tempo. Meu salvador dormiu num colchão ao meu lado para a minha proteção e não tive minha primeira noite sozinha.
 
Realmente não acredito que baratas possam ter qualquer importância na cadeia alimentar. Se eu partir para a pesquisa, me comprometo a buscar desenvolver um composto que possa exterminar da face da terra esse bicho. Como se não bastasse ser nojenta, bizarra, asquerosa e ter a capacidade de sobreviver a um ataque nuclear, a filhadaputa ainda tem que voar. Voar!
 
Aranha? Ok. Sapo? Ok. Cobra? Ok. Escorpião? Ok. Lagartixa? A coisinha mais fofa de Deus.
Mas barata, ah... Essa foi sacanagem divina.


A dor e a delícia

quarta-feira, 10 de outubro de 2012



Todos conhecem a velha canção que diz "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
Mas será que sabemos mesmo? Conseguimos saborear tanto a dor quanto a delícia?

Sofro do mal de sinceridade aguda e alta necessidade de verbalização. Por culpa desse "mal" já recebi elogios e fui autêntica em situações que muita gente abaixaria a cabeça. Por outro lado, é por conta dessa "personalidade forte" - como alguns chamam - que sou, eu mesma, a responsável pelo fim da maioria dos meus relacionamentos, direta ou indiretamente.
É triste ser responsável pelo fim de algo que você só queria que durasse. Mas não nasci pra joguinhos, não consigo me fazer de sonsa e deixar o tempo passar com tudo escorrendo pelos meus dedos sem poder fazer nada a respeito.

Imagine a seguinte cena: alguém segurando um punhado de merda e outro repetindo "segura mais um pouco, que logo eu te trago uma lixeira pra jogar fora". E pode ser mesmo verdade. Faz sentido esperar a lixeira. Mas o problema é que a merda fede. 
Não sei se por impaciência ou impulsividade. Mas sou o tipo de pessoa que joga a merda no ventilador simplesmente porque não aguenta mais ficar segurando.
E como se não bastasse jogar, eu preciso dizer por que joguei, explicar que estava fedendo.

A delícia é que eu me imponho. Tomo o meu lugar e de lá ninguém me tira. Afinal, por que eu deveria segurar a merda enquanto espero a boa vontade de outro pra buscar a lixeira?
A dor é que, de um jeito ou de outro, fede. Se antes só comigo, depois é em todo lugar, o tempo todo. Ventilador, lembra?

Quanto nós conseguimos aproveitar do que a nossa personalidade oferece?

Acredito que a chave está não apenas no equilíbrio que podemos encontrar, mas principalmente no foco do que é forte, do que é "delícia".
Isso significa, no meu caso, saber me impor e falar tudo o que eu quero falar, com toda a minha sinceridade e necessidade, mas também saber a hora de parar. Sem deixar sobrar pra quem não tem nada a ver.

E não preciso jogar no ventilador. Só preciso de alguém que aprenda a dividir a merda comigo e que aceite minhas dores e delícias.