O amor vale a pena

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Ele escreveu 365 cartas pra ela, sem nenhuma resposta
Porque valia a pena

Eu não sou o tipo de pessoa que sai por aí puxando papo com Deus e o mundo. A verdade é que em algumas situações eu sou bem reservada e gosto de ter momentos bobos do dia a dia pra mim. Gosto de ouvir música no ônibus, quieta na minha, e também gosto de ficar calada na fila do mercado, tentando lembrar se está faltando alguma coisa.
Mas isso não significa que eu seja antipática ou grossa quando um desconhecido puxa conversa.

Foi numa das minhas rotineiras viagens Bauru/São Paulo que conheci um senhor muito simpático.
Por mais que eu me esforce não consigo lembrar o nome dele e fico triste por isso, mas nunca vou me esquecer da nossa conversa.
Ele me contou um pouco da sua vida (ou muito dela). Disse-me o quanto era grato por tudo e se sentia realizado por tudo o que conquistou. Contou sobre seus filhos. Contou sobre sua esposa e seus problemas. Pelo que eu entendi, sem entrar em detalhes, há anos ela sofre de uma síndrome do pânico e isso dificulta muito a vida deles na capital. Por isso ele mantém uma casa de descanso no interior e sempre leva a mulher quando percebe que ela está precisando. Contou tudo isso com muito carinho e eu percebi o quanto ele era feliz por poder fazer um pouco por ela.
Ele também me contou como acha importante as pessoas tomarem a decisão de se casar e começar uma vida juntos, que não vê sentido em viver sem isso. E eu pensei em como os relacionamentos modernos poderiam ser melhor construídos se tivessem exemplos como este homem.

Achei interessante ele estar me contando sua jornada de trás para frente, mas ainda não sabia bem onde ele ia chegar.
Então ele me contou de quando saiu da sua cidade natal e resolveu ir para São Paulo. Quando perguntei o motivo já fui esperando a resposta clássica "para tentar a vida". Qual foi minha surpresa quando recebi um "para esquecer uma moça".
Acho que a minha primeira reação foi rir um pouco, nem sabia o que comentar.
Acontece que ele era o melhor amigo de uma moça, mas se apaixonou por ela. Quando se declarou ela disse que não sentia o mesmo, que eles eram apenas amigos. Foi quando eu descobri que há 50 anos já existia a friendzone.

Eu perguntei meio incrédula "mas você foi embora só por que ela disse que não sentia o mesmo?". Ele respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo - e de fato era: "eu era apaixonado por ela, como poderia vê-la todos os dias depois disso?".
Algum tempo depois na conversa ele me contou que essa moça havia falecido há uns 3 ou 4 anos e que ele ficou muito triste por isso. Achei estranho ele ainda ter mantido contato, mas ele explicou que não tinha. Que sempre teve alguém que o manteve informado sobre ela. Exclamei "nossa, você gostou mesmo dela!" e ele falou o que eu jamais vou esquecer:
"Nunca deixei de pensar nela. Nem um só dia da minha vida. Amo minha mulher, amo a vida que construímos e nunca trocaria isso por nada. Mas nunca senti por ninguém o que ela me fez sentir".

Essa conversa me marcou tanto.
O que faz alguém desistir de um amor? Desistir de tentar...
Minha história com meu namorado é realmente maluca. Vivemos muitas coisas até chegarmos onde estamos hoje. E até conseguirmos definir em palavras o que tínhamos. Levou anos e muitos tapas na cara. Mas uma coisa nós concordamos e não podemos negar: só estamos juntos hoje porque eu insisti.

Por muito tempo eu me senti mal com esse pensamento. Pensava que estava errado ter sido eu, a mulher, quem ficava colhendo os cacos e juntando toda vez, insistindo de novo e de novo. Mas esse pensamento é uma bobeira machista.
E hoje eu sei porque nunca desisti. Porque toda vez que ele me perguntava "por que acabamos juntos de novo?" eu respondia "porque vale a pena". E essa é a resposta: porque vale a pena.
Porque eu não quero daqui 50 anos lembrar de um amor que eu não vivi, porque não ouvi a certeza do meu coração.

Resenha de leitura - O Castelo nos Pirineus + Novidades

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Começando do começo....
Depois de muito tempo o blog está de cara nova, cores novas e um ar mais clean! Gostaria de agradecer publicamente ao meu namorado que gentilmente se propôs a dar essa arrumada na casa, já que eu não entendo muito da tecnologia por trás do que eu escrevo aqui. Obrigada, meu amor! S2

E cara nova pede também novidades! Por isso estou iniciando hoje o projeto "TAG Eu Li".
Desde o ano passado o blog foi tendo uma decaída na quantidade de textos publicados, tanto pela falta de tempo quanto pela falta de inspiração. Textos pela metade que ficaram pelo caminho é o que não falta. Vou te dizer, é bem difícil ser feliz no amor e manter uma inspiração para escrever. Mas estou tentando voltar à ativa. Pensando nisso achei que seria legal compartilhar minhas impressões pessoais sobre minhas leituras. Então toda vez que eu utilizar a TAG Eu Li vou falar um pouco sobre algum livro.

Sem mais delongas, vou começar com a primeira TAG.
Livro: O castelo nos Pirineus
Autor: Jostein Gaarder


“Claro que chorei no trem. Chorei até chegar a Bergen. Não entendi mais nada. De repente, eu só sabia que nós pensávamos de modos diferentes, mas não conseguia compreender por que não podíamos conviver com isso. Obviamente não éramos o primeiro casal do mundo a acreditar em coisas diferentes. Ou você acha que um crente e um descrente não podem de modo algum viver sob o mesmo teto, como marido e mulher? (…) Eu pergunto: o que é o mundo, Steinn? O que é um ser humano? E o que é essa aventura estelar em que nadamos como pequeninas pérolas encantadas de consciência?”

Já faz tempo que li este livro, mas, mesmo não estando tão fresco na minha memória, resolvi começar a TAG com ele por alguns motivos que achei justo. Dei de presente a um amigo alguns dias atrás e isso me fez relembrar sua doce história e como me foi uma leitura agradável. Sou um pouco suspeita para falar pois, até que alguém ou outros livros me façam mudar de ideia, Jostein Gaarder é meu autor favorito. Ele tem cerca de 20 livros publicados, infelizmente, ainda não consegui ler todos, mas sempre que posso comprar/ler algum faço sem nenhum medo pois já tenho certeza de que vou gostar.
Como a maioria das pessoas, o primeiro livro dele que eu li foi O Mundo de Sofia, quando tinha 14 anos. Que, embora seja o livro mais vendido da história da editora Cia das Letras, é um livro que fica bastante dividido entre amor e ódio dos leitores. É quase um livro didático de filosofia, com um romance de pano de fundo. Eu gostei porque sempre me interessei por filosofia. E foi desde então o que me abriu portas para os outros livros do autor.
Mas não estou divagando aqui à toa. Faço estes comentários pois quase todos os livros dele vêm subtitulados como "do mesmo autor de O Mundo de Sofia" e muitos não tem uma relação direta com ele. Gostaria que as pessoas não ficassem tão propensas a relacionar o autor a um único livro. Mesmo quem não gostou deveria dar uma nova chance a outros livros dele como O Pássaro Raro ou O dia do Curinga.
Falando mais um pouco sobre o autor - e eu juro que estas informações complementam a minha visão sobre o livro -, é um norueguês, filósofo e teólogo, que usa e abusa destas três características para seus livros. Mesmo quando ele não fala diretamente sobre filosofia (como fez em O Mundo de Sofia) gosto de como ele se utiliza de construções filosóficas para dar firmamento a suas histórias.

O Castelo nos Pirineus conta a história de um casal, Solrun e Steinn, que se reencontra 30 anos após um fim abrupto de um relacionamento intenso. O reencontro se dá ao acaso, ambos com suas vidas construídas e, ao perceberem que tomaram caminhos tão distintos, resolvem manter contato e discutirem um pouco sobre o passado, a vida e tentarem entender o motivo da separação.
A doçura do livro se dá no que para muitas pessoas seria motivo de guerra: a antítese de seus personagens principais. Solrun é uma mulher muito religiosa, que acredita na transcendência do espírito e da alma e em mistérios sobrenaturais. Já Steinn é totalmente cético, crê apenas na razão e na ciência.
O livro é curto (apenas 177 páginas) e não possui um narrador exclusivo. Todos os capítulos são baseados em trocas de e-mails entre Solrun e Steinn. Sei que parece bobo e cansativo, mas é uma leitura muito agradável.A maneira como eles se tratam é muito cordial e carinhosa, deixando claro que, o que quer que tenha acontecido no passado, o relacionamento foi muito puro e bonito. Embora suas visões de mundo sejam completamente antagônicas, cada um explana sua ideia de maneira clara, educada e compreensiva, sem tentar passar por cima da concepção do outro. O que é uma surpresa no mundo em que vivemos quando se trata de visões opostas entre ciência e religião. A cereja do bolo é o final surpreendente e o mistério da mulher-amora que cerca a história.

É uma leitura fácil, agradável e muito instrutiva. É um romance moderno que trata de assuntos contemporâneos, mistérios, religião e ciência sem pender a nenhum lado clichê. Por ser uma leitura rápida, recomendo mesmo a quem não está muito familiarizado com o mundo dos livros ou quer iniciar.

Nota pessoal: 9,0