Polemizando...

quinta-feira, 22 de agosto de 2013




Vamos falar de assunto polêmico??? Vamos!

Por dois motivos:
1) Porque estou entediada e preciso de uma discussão acalorada.
2) Porque entrei no assunto numa postagem no facebook e comecei a escrever um monte. Ando sem criatividade, o blog tá parado e pensei: "por que não?".

Então, vamos falar sobre aborto. Se você quiser parar de ler por aqui, fique à vontade. O "x" lá de cima é a serventia da casa. Se você quiser continuar, vamos fazer um combinado. Você me respeita e eu te respeito, e se for fazer algum comentário pense nele antes.

Pra começar, vou reforçar algo que todos já sabem: eu sou cristã.
Eu prezo pela vida. E eu sou contra o aborto. Acho o aborto algo terrível e triste, muito triste. Mas acho igualmente triste ver criança sendo mal tratada, abandonada, morrendo de fome e mulheres morrendo em cima de uma mesa suja porque faltou uma coisa pra elas: informação.

Não só os cristãos, mas gente de muita religião e outros grupos fecham o olho pra muita coisa para não ferir seus ideais. Não podemos fechar os olhos para a realidade. E a nossa realidade hoje é: o aborto existe. Seja você a favor dele ou não.
A mulher que coloca na cabeça que a melhor - ou única - saída para ela é abortar, vai fazer isso, não importa como. A diferença é que quem tem dinheiro vai fazer isso "direito" e vai sair ilesa. A mulher pobre muito provavelmente vai morrer ou ficar com sequelas pelo resto da vida. E eu nem preciso dizer quem ganha como maioria no grupo.
Nos restam duas opções: dizer que o aborto é um crime, que você tira uma vida e não podemos aceitar isso, ponto final, ou aceitarmos que a realidade é essa e discutirmos formas de resolver a situação. Não estou dizendo que o aborto legal é a melhor saída, apenas que não podemos nos fingir de tontos.

Eu ainda não tenho uma posição formada sobre o aborto no Brasil. Só acho que muito se fala, sabendo pouco. Eu nunca vou "defender" o aborto. Mas acho que a descriminalização é altamente passível de discussão. Não acho que o aborto deva ser "aprovado" porque as feministas extremistas de plantão ficam berrando "o corpo é meu e eu tenho o direito de fazer com ele o que eu quiser". O corpo não é mais só seu, tem outra vida aí. Se vai tomar uma posição pelo aborto, que faça isso usando argumentos menos egoístas.

O que muita gente não entende é que "descriminalizar" o aborto é totalmente diferente de "liberar" o aborto.
Milhares de mulheres morrem todos os anos (e morrem junto seus bebês - ou fetos, se preferirem) em virtude de abortos clandestinos mal feitos.
Quando se fala na descriminalização do aborto, muita gente pensa que é uma coisa simples. Que pode servir quase como um "meio contraceptivo atrasado". Acham que é simplesmente ir até o posto mais próximo e tirar "aquele peso" da barriga.

Confesso que não estou a par das reais discussões políticas e propostas no Brasil sobre o assunto, não mais do que ouço nas rádios. E até gostaria que, se alguém souber a fundo sobre a discussão do tema pelo governo, deixe nos comentários. Mas independente disso, com certeza não é algo tão simples.
Em países desenvolvidos onde há a liberação do aborto, como por exemplo a Dinamarca, muito antes da mulher sair tomando abortivo ou o médico ir cortando a barriga, existe um acompanhamento médico e psicológico. Procura-se entender os motivos que fazem a mulher optar pelo aborto, aconselham, informam, procuram convencê-la do contrário, até mesmo dando outras alternativas, como deixar o filho para adoção, por exemplo. E somente depois desse acompanhamento é que a mulher está liberada ao aborto, se ainda quiser.

Quando eu penso na descriminalização do aborto, penso nisso exatamente em prol da vida. Se todo o processo for feito do jeito certo, quantas vidas não podem ser salvas?
A decisão do aborto não deve ser algo fácil para uma mulher e fazer isso sem informação, sem acompanhamento e sem conhecer os riscos que está correndo é desumano. Permitir que isso continue acontecendo apenas para não ferir o nosso discurso de que "aborto é um crime/pecado", sem refletirmos no que isso causa é tão desumano quanto.

No entanto, a possível descriminalização do aborto, deve existir ao mesmo tempo que uma política estruturada, com qualidade na saúde, que consiga fornecer à população todas as informações necessárias e que acima de tudo preze por métodos contraceptivos e que a conscientização nessa direção seja sempre o foco.
Quando eu disse que não tenho ainda uma posição formada quanto ao assunto no Brasil é exatamente por esses motivos acima citados. Não quero dizer que no Brasil nada funciona, temos ótimos exemplos em que somos referência lá fora, como o combate ao tabagismo e a conscientização/prevenção da AIDS. Mas também sabemos que temos um histórico de ações que saíram pela culatra e, infelizmente, ainda temos muito o que melhorar nas nossas políticas públicas de saúde. Por isso, apesar dos motivos expostos quanto às vantagens da descriminalização do aborto, ainda tenho muito medo de como isso pode ser aplicado no Brasil. Tenho muito medo da possibilidade de virar bagunça, do processo de acompanhamento e informação não ser respeitado. Medo da ideal cultura contraceptiva acabar se tornando uma cultura abortiva. E aí uma ação que inicialmente deveria ter sido pela vida acabar virando uma coisa (mais) errada.

Resumo ideal: sonho com uma realidade em que as pessoas tenham consciência da utilização dos métodos contraceptivos e os usem. Sonho com um mundo em que apenas as mulheres que, de fato, desejam serem mães engravidem e possam criar seus filhos cheios de amor, como eles merecem. Sonho que a maternidade e a gravidez sejam duas coisas lindas e desejadas e não um peso, um problema. Sonho que mulheres tenham respeito pelo próprio corpo e por outra vida e assumam suas responsabilidades. Sonho com uma sociedade em que homens não tratem as mulheres como objetos e que "estupro" seja uma palavra que não precise mais existir.
Sonho com uma verdade feita de amor e não de sangue. Mas enquanto é a de sangue que existe, sonho com pessoas que não a ignorem.