Furta-cor

terça-feira, 26 de junho de 2012



“De manhã ela sentia uma saudade lilás. E à noite, um desejo prata que ela não sabia bem de quê.”


Quando eu tinha por volta dos meus 12 anos tive alguns problemas para dormir. Não que eu não tivesse sono, esse nunca foi o motivo. Mas simplesmente tinha medo, de não sei o que. Lembro-me de que ia deitar ainda cedo, com meus pais assistindo tv e deixava a porta aberta, pra dormir enquanto ainda houvesse barulho. Foi uma fase estranha. Tinha medo de acordar sozinha, mas como não podia garantir isso, pelo menos não queria dormir sozinha.


Também tive um período de pensamentos bizarros no pré-sono. “E se o mundo não existisse?”. De repente, abria os olhos e quando só havia preto, por um momento, ele realmente não existia.

Já um pouco mais velha, por volta dos 18, aprendi o nome de duas coisas que me tiravam o sono: ansiedade e sofrimento por antecipação. Por umas duas ou três vezes precisei ir ao hospital no meio da noite e tomar algo que me acalmasse. Minha mente repetia num mantra pra ficar calma e dormir, meu corpo respondia com uma teimosa tremedeira.

E agora, com 5 anos de faculdade e a vida adulta batendo na minha porta insistentemente, novamente me faltam palavras para o rolar na cama.
Medo de morrer, medo de não ver, de não viver, de não sentir. Uma coisa que não sei.

Então, encontrei ao acaso um velho texto de uma escritora infantil que há anos não via. E entendi o que eu sinto: uma dor azul.

“[...] E a menina, que já era uma mulher, descobriu que o nome da dor azul, como está no dicionário, é desassossego.
E que esse desassossego queria dizer, mais ou menos, em palavras de adulto:
Como será que vai ser minha vida daqui pra frente!?”

Percebi que cada fase teve uma cor diferente.
E é importante que eu me sinta meio laranja às vezes, ou azul, ou roxa, ou verde... Porque no fim, não vou precisar ter medo do futuro. Ele será um lindo arco-íris.



Recomendo o texto: “A dor azul”, de Adriana Falcão.

Ele é meu ex... mas é meu amigo!

sexta-feira, 22 de junho de 2012



Não sei se eu acredito em amizade pós-namoro. Já defendi muito isso, mas preciso dar o braço a torcer que não. Não sei se tem como.

Não estou dizendo que a pessoa namora por 6 anos e depois que acaba precisa esquecer que existe. De forma alguma. Você compartilhou uma parte da sua vida com o outro (e muitas outras coisas). Chega a ser uma falta de respeito cortar relações totalmente depois do fim – claro dependendo das condições do término é necessário. Mas a palavra “amizade” eu desconfio mesmo. Quem sabe, talvez, depois de muito tempo, anos, com a vida dos dois já tendo tomado seus rumos, pode ser que o contato casual evolua.

Na maioria das vezes quem quer continuar “amigo” depois que acaba é por não ter aceitado o fim por completo. Um relacionamento de verdade vai muito além de namorados, existe amizade mesmo. Então, manter esse lado é uma forma de não deixar o relacionamento acabar por inteiro. Falo isso por experiência própria.

Hoje me dou bem com dois dos meus três ex-namorados. Mas percebi que “me dar bem” é diferente de “ser amiga”. Não há cumplicidade total, troca de experiências, compartilhamento, convivência. O que ficou foi o respeito, o carinho, as lembranças. Mas toda vez que tenta aumentar o vínculo fica difícil de novo. Acredito ser pelo motivo de já ter vivido tanto junto, de saber tanta coisa. Tem como ser amigo de alguém que já passou essa barreira?
E como eu queria estar errada!

Já cheguei a me perguntar: “mas eu não sinto mais nada por ele nesse sentido, e nem ele por mim. E a gente se dá super bem... por que não conseguimos estreitar mais o contato de novo?”. A conclusão que eu chego é “porque não faço mais parte disso”. 

Ligar no dia do aniversário, trocar aquele “oi, tudo bem, como vai” no Skype, até marcar uma cerveja com os amigos (no caso de ter amigos em comum) casualmente é aceitável.
Mas, visitas constantes, “comprei esse negocinho porque lembrei de você”, ligações depois das 22h, sms de “bom dia” e “vamos sair pra um barzinho, eu, você, minha namorada e seu namorado” é completamente dispensável. Amiguinhos, amiguinhos, ex-namorados à parte. A não ser que haja outras intenções na reaproximação pela amizade.

Para não parecer tão radical quanto ao assunto, uma situação em que acho que a amizade pode funcionar bem é quando já eram muito amigos antes do relacionamento. Algumas pessoas conseguem voltar, mas ainda assim é preciso ter cuidado.

É preciso saber colocar um limite nas coisas. Já vi casais tentando manter uma “super amizade” que não deu em nada. Como mantinham muito contato, acabavam ficando vez ou outra, mas não queriam voltar. Só que, como não se deixavam, também não permitiam evoluir nada com outra pessoa. Enfim, é um ciclo. E nem precisa dizer que acabou com um dos dois machucados né!? Porque “amigos-ficantes-ex” é uma situação muito confortável até um dos dois encontrar alguém que resolva assumir algo a mais e deixar o outro chupando dedo. Afinal, mulher nenhuma e homem nenhum aceita um(a) “ex-superamigo(a)” pendurado.

Lições de Banheiro

quarta-feira, 6 de junho de 2012


Com o tempo e as experiências a gente vai aprendendo algumas coisas na vida.
Mas a chave principal está na projeção que podemos dar às pequenas coisas para aprender as grandes.

O banheiro é um local extremamente necessário na vida de uma pessoa. Pelo menos de uma pessoa educada na nossa civilização atual. Porém, alguns ainda não aprenderam que este local tão importante é compartilhado e acabam deixando algumas surpresas lá para o próximo usuário.
Mulheres, desde muito pequenas, levam uma vida de aprendizado sobre como utilizar banheiros públicos. Tudo começa com a mãe segurando no colo com todo o cuidado para a criança não sentar no vaso, ao mesmo tempo prestando muita atenção, evitando qualquer movimento brusco, para que a pequena não se mova e acabe espirrando pra todo lado. Lição número um aprendida: não encoste num vaso desconhecido.

Lição número dois: Não tem papel? Ok, é só chacoalhar do jeito certo que dá pro gasto.
E por aí vão as lições...
Conforme o tempo vai passando ninguém precisa mais nos ensinar, vamos aprendendo sozinhas. E hoje eu tenho duas regras essenciais para seguir em banheiros públicos: 


1)      Sempre verificar o estado da lixeira. Quanto mais papel jogado, mais aquele banheiro foi utilizado e maior a probabilidade de sujeira. Escolha a cabine com menos papel na cesta.
2)      Quando a tampa da privada está abaixada, não levante. Não mexa!!! A não ser em situações de extrema necessidade. Faça sempre o possível e impossível para não ser você a levantar a tampa. As chances de encontrar uma surpresa desagradável são gigantescas. 


E foi assim que eu comecei a perceber que algo tão trivial, embora importante, como um banheiro pode nos dar grandes lições.

Hoje eu tento seguir as regras de banheiro nos meus relacionamentos, e se as pessoas também seguissem acho que iriam sofrer menos com “surpresas inesperadas”, até porque nunca é tão inesperado assim. A gente sempre consegue prever algumas coisas. 
Antes de começar um relacionamento tente prestar atenção em quantos “papéis usados” a pessoa tem na vida dela. Quantos ou quantas passaram, foram usados e jogados na lixeira sem dó. Nem sempre a lixeira mais cheia é do banheiro mais sujo, mas a probabilidade é grande. Claro que também nem sempre é possível ter essa noção, por isso é bom conhecer alguém o melhor possível antes de começar algo. Viu, amiguinhos que encontram o amor eterno 12 vezes no ano?!
Mas sem dúvida a regra mais importante de todas é a tampa. E ela pode ser aplicada a tudo.


Se a pessoa é fechada demais, te esconde coisa demais, não tente descobrir! Procure outro vaso.
Se o relacionamento não anda e você não sabe porque, esqueça. Procure outro vaso.
Se as coisas andam bem mas surge a possibilidade de fuçar coisas que não te dizem respeito, não fuce.
Enfim, cuidado com as tampas. Elas estão fechadas por algum motivo. Mas se mesmo assim você quiser arriscar e abrir, fique preparado pra merda.