Pulsar

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012




Talvez estas sejam palavras invulgares. Peço-te: lê para além da sua superfície.
Hoje, perdem-se no vazio as palavras, e eu, vítima de um paradoxo, encontro-me nas múltiplas memórias de partilha infinita. Relembro que a última vez que beijei os teus lábios foi sem o conhecimento das despedidas futuras. A última vez que me afoguei nos teus olhos ignorava que me despedia desse tumultuoso mar. Na última vez que enlacei o teu corpo de encontro ao meu, soltei-te demasiado cedo porque imaginei um reencontro. Talvez por isso vivam agarrados a mim: o teu cheiro, o teu sabor, a tua pele. Quero apagar-te desta memória imediata do ser, mas também te queria, inteiro, pele com pele adivinhada. Não suporto ter-te a mais de um centímetro da minha pele, mas também não suporto ter-te assim dentro de mim: cravado no meu respirar, permanência no meu sentir. Mesmo que um dia estejas longe da memória imediata do que sou, permanecerás incrustado na minha pele, serás as cicatrizes das feridas felizes que causei em mim, ou tu causaste em mim. Importa que vivi (te vivi), isso faz-me feliz, quando não me agoniza até ao ponto de me sentir sufocar. Talvez não gostes de ouvir: que te gostei para lá da loucura; que tudo isso me fez ter medo; que sim, te vi perfeito. Talvez não suportes ouvir...
É urgente falar, ouvir, comunicar. Agente, apenas isso, do pulsar antiquíssimo do desejo. Não é só quando encontramos a inteligência que nos descobrimos. Somos antes e depois das palavras, somos para além delas. Como se um momento redimisse todas as lágrimas, ou a recordação do teu sorriso representasse toda a salvação. Hoje é apenas hoje. Até amanhã.

(Fernanda Monteiro)



- Não gosto de publicar textos alheios aqui. E não faço a menor ideia de quem seja essa Fernanda. Mas gosto particularmente deste texto. Tenho ele guardado nos arquivos há alguns anos e me toca de uma forma especial.
Não é preciso suas próprias palavras, quando outros conseguem dizê-las.

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