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segunda-feira, 15 de outubro de 2012


Nina, no papel "Gabriela e suas duas baratas"


Abril de 2009. Era a primeira vez que ia dormir completamente sozinha no novo apartamento, as meninas tinham ido viajar e eu garanti que ficaria bem. Doce ilusão. Ribeirão Preto já estava naquela época do ano de fazer as quatro estações num dia só. No meio da tarde um calor latejante, no meio da noite o inferno gelado. Morava no último andar e meu namorado chegaria na manhã seguinte, o que poderia dar errado? Tudo.
 
Fiquei à toa na internet até às 2 da manhã e já estava quase no estado zumbi alfa 2.0 quando resolvi ir para a cama. Achei que estava tudo bem, que eu tinha sobrevivido 100% à minha primeira noite naqueles poucos metros quadrados. Mas meu apartamento era inteiro de forro. E o que eu não sabia era que este mesmo forro fora feito com a madeira proveniente da árvore do quintal de Hitler e que estava lá apenas para o meu sofrimento, guardando-me algumas surpresas.
 
Maldita a hora que resolvi manter meus hábitos higiênicos noturnos. Já se passava das duas, eu poderia muito bem ter ido dormir e deixado para escovar os dentes na manhã seguinte, mas não. Chegando ao banheiro, estava lá, bem na minha frente, me olhando, mexendo as antenas para lá e para cá. Imóvel, estava tentando me enganar, como se eu não soubesse que ela poderia se mover na velocidade da luz a qualquer momento e voar para dar o bote. Voar!
 
Eu estava tão feliz, minha primeira noite! E em plena madrugada de uma sexta-feira, com tantas coisas boas a se fazer, me encontrava presa num micro banheiro com aquele ser das trevas horrendo.
Na minha mente tudo se passou em câmera lenta, mas, por reflexo, consegui fechar a porta antes que seu pequeno cérebro de barata pudesse reagir e resolver me perseguir. Quando achei que nada mais podia dar errado, a maçaneta estava enroscada. Isso significava que eu precisaria abrir a porta novamente para desenroscar antes de fechar direito, mas eu não podia me arriscar. Com uma faixa consegui prender a porta do banheiro ao armário e a única coisa que encontrei para vedar o vão do chão foi a minha toalha de banho, coitadinha da minha toalha.
 
Foi nesse momento que respirei fundo e entrei em desespero total. Eu nunca ia dormir com aquele monstro a apenas uma porta de separação. Ela com certeza conseguiria se esconder e me observaria por dias até encontrar outro momento em que eu estivesse vulnerável, aliás, acredito que já estava fazendo isso há algum tempo. Mesmo assim, decidi ser macho e disse a mim mesma que eu poderia aguentar. Minutos depois estava na minha cama em posição fetal, sem coragem de apagar a luz, observando fixamente a porta do banheiro, respirando fundo, até que... Na parede oposta noto um leve movimento e aí já era tudo. Ah não! Outra não! Por que, Deus???
 
Já não segurava mais as lágrimas e dei um grito que provavelmente deve ter acordado todos os vizinhos.
Não conhecia ninguém no prédio, tinha me mudado a menos de 2 meses! Como eu poderia tocar a campainha de um completo desconhecido em plena madrugada? Liguei para um amigo que morava a uns 10 quarteirões e em meio aos soluços expliquei a situação. Ele, como um bom amigo, fez o que qualquer outra pessoa que me ame tanto faria na sua posição: morreu de dar risada. Reforcei – muito seriamente – que não estava brincando e que precisava que ele fosse até lá matar os monstros. É claro que fiquei com dó, 10 quarteirões a 10°C. Mas eram duas baratas e eu, não tinha outra opção.
 
Esperei na portaria e pouco tempo depois meu amigo chegou embrulhado num edredom, com olhos vermelhos de sono e rindo da minha cara de choro. Entrou no meu quarto como um herói armado para me livrar do sofrimento. A primeira barata ele concordou que realmente tinha um tamanho avantajado. A segunda barata era na verdade uma linda lagartixa que ficou morando comigo por um tempo. Meu salvador dormiu num colchão ao meu lado para a minha proteção e não tive minha primeira noite sozinha.
 
Realmente não acredito que baratas possam ter qualquer importância na cadeia alimentar. Se eu partir para a pesquisa, me comprometo a buscar desenvolver um composto que possa exterminar da face da terra esse bicho. Como se não bastasse ser nojenta, bizarra, asquerosa e ter a capacidade de sobreviver a um ataque nuclear, a filhadaputa ainda tem que voar. Voar!
 
Aranha? Ok. Sapo? Ok. Cobra? Ok. Escorpião? Ok. Lagartixa? A coisinha mais fofa de Deus.
Mas barata, ah... Essa foi sacanagem divina.


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