A dor e a delícia

quarta-feira, 10 de outubro de 2012



Todos conhecem a velha canção que diz "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
Mas será que sabemos mesmo? Conseguimos saborear tanto a dor quanto a delícia?

Sofro do mal de sinceridade aguda e alta necessidade de verbalização. Por culpa desse "mal" já recebi elogios e fui autêntica em situações que muita gente abaixaria a cabeça. Por outro lado, é por conta dessa "personalidade forte" - como alguns chamam - que sou, eu mesma, a responsável pelo fim da maioria dos meus relacionamentos, direta ou indiretamente.
É triste ser responsável pelo fim de algo que você só queria que durasse. Mas não nasci pra joguinhos, não consigo me fazer de sonsa e deixar o tempo passar com tudo escorrendo pelos meus dedos sem poder fazer nada a respeito.

Imagine a seguinte cena: alguém segurando um punhado de merda e outro repetindo "segura mais um pouco, que logo eu te trago uma lixeira pra jogar fora". E pode ser mesmo verdade. Faz sentido esperar a lixeira. Mas o problema é que a merda fede. 
Não sei se por impaciência ou impulsividade. Mas sou o tipo de pessoa que joga a merda no ventilador simplesmente porque não aguenta mais ficar segurando.
E como se não bastasse jogar, eu preciso dizer por que joguei, explicar que estava fedendo.

A delícia é que eu me imponho. Tomo o meu lugar e de lá ninguém me tira. Afinal, por que eu deveria segurar a merda enquanto espero a boa vontade de outro pra buscar a lixeira?
A dor é que, de um jeito ou de outro, fede. Se antes só comigo, depois é em todo lugar, o tempo todo. Ventilador, lembra?

Quanto nós conseguimos aproveitar do que a nossa personalidade oferece?

Acredito que a chave está não apenas no equilíbrio que podemos encontrar, mas principalmente no foco do que é forte, do que é "delícia".
Isso significa, no meu caso, saber me impor e falar tudo o que eu quero falar, com toda a minha sinceridade e necessidade, mas também saber a hora de parar. Sem deixar sobrar pra quem não tem nada a ver.

E não preciso jogar no ventilador. Só preciso de alguém que aprenda a dividir a merda comigo e que aceite minhas dores e delícias.

3 comentários:

  1. Quando uma mulher diz que um homem deve aguentá-la ouvir dizer o que pensa, é sinal de que esta mulher não vai aguentar ouvir tudo o que seu homem pensa. Agir assim, sendo “sincero” dentro de um relacionamento, é aprisionar o companheiro. Em suma: você vai se achar no direito de falar tudo e não ouvir nada. Exigimos dos outros aquilo que não podemos oferecer.

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    1. Anônimo,
      Obrigada pelo comentário. Porém, acho que você entendeu errado o que eu quis dizer com "sinceridade". A sinceridade da qual me refiro no texto é a sinceridade de sentimentos, a sinceridade de deixar claro como me sinto com relação a algo ou alguém, sem fazer teatro ou joguinhos ou fingir que não me importo.
      Essa sinceridade que você disse, de alguém ter que "aguentar" ouvir é de jogar verdades na cara e isso não faz bem em nenhum relacionamento, nem homem/mulher, nem em qualquer outro.

      Quando eu disse que já acabei com muitos relacionamentos por causa do meu mal, não foi por intolerância ou discordância de opiniões. Foi simplesmente por ser tão transparente nos meus sentimentos e precisar verbalizá-los a ponto de, muitas vezes, não deixar o tempo passar para que algumas coisas aconteçam naturalmente. E a outra pessoa não entender que não é "desespero", é apenas o que eu sinto que não guardo. Foi isso o que quis dizer com "aceitar as minhas dores e delícias". E a "merda" para mim é ter que ficar segurando sentimentos que ficam gritando dentro de mim.

      Mas agradeço e respeito seu ponto de vista. E concordo, aliás, levando-se em conta outros sentidos de "sinceridade extrema". Mas não agradeço e não concordo em não querer se identificar. Que pena.

      beijos ;)

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  2. Eu falei exatamente desta sinceridade. Relacionamentos amorosos também são relações sociais com todas as convenções e cinismos. É por isso que os relacionamentos geralmente acabam quando mostramos quem realmente somos. Infelizmente, quem está ao teu lado sempre vai exigir, por menor que seja, uma dose de falsidade. Eu cheguei a esta conclusão depois de observar isso nos meus próprios relacionamentos e vi isso vivo no seu texto (do qual eu gostei muito, senão não o teria comentado). Pode ser que só tenha sido assim comigo, mas quando eu sou-me por inteiro e me expresso assim, as pessoas fogem... Ah, eu gosto de comentar como anônimo, haha.

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