Olá estranho!
Vamos lá, esse blog não é um diário, então não vou ficar explicando que eu não posto nada há anos, mas nunca tive coragem de desativar. Fato é que continuei escrevendo e sempre pensei em retomar com algum foco. Seguimos.
Despois de mudanças, maternidade
e afins estou tentando (já há um bom tempo) retomar uma rotina de leitura. Com uma
bebê que não dormia era muito difícil, mas eu já não tenho mais essa desculpa.
Então por que não juntar o útil ao agradável e voltar ao blog com resenhas
literárias?
Vou começar pelo lido mais
recente, best seller “É assim que acaba” (título original: “It ends
with us”) – autora Coleen Hoover.
Veio como indicação de
uma amiga que também está retomando a leitura – com muito mais sucesso do que
eu – e ela também me emprestou o livro. Obrigada, Ro!
Pelas minhas conversas
com essa amiga, eu tinha alguma ideia sobre a temática, mas não quis pesquisar
mais nada antes de ler. Confesso que eu estava esperando uma leitura um pouco
diferente. Logo no início, pela estrutura da escrita, perfil dos personagens
etc, já vi que era uma leitura YA (categoria literária Young Adult). Que na
verdade depois descobri que ele se encaixa em uma nova categoria de New Adult –
que traz personagens já não mais tão adolescentes e pode trazer temas mais
complexos e um pouco de soft porn (conveniente).
Longe de mim qualquer preconceito
contra leituras YA, gosto de vários e acho que eles funcionam muito bem no propósito
de pavimentar o caminho de leitores assíduos. Em geral, eles tem uma estrutura
de escrita e fluxo de leitura muito fácil. São livros rápidos, que te prendem e
não te exigem muito. Nesse sentido, posso dizer que este livro era exatamente o
que eu precisava num momento de retomada. Ele tem 366 páginas, contando com
notas da autora e agradecimentos. Ou seja, é um livro longo, mas que mesmo
assim eu li em um dia com algumas paradas e estando “fora de forma”. Leitura
bem fácil, com muitos diálogos, te prende e é fluido.
Mas, direto ao ponto: ele
é bom ou não é? Eu gostei ou não gostei?
Caracterizar como “bom
ou ruim” é muito pessoal. Na minha visão: tem melhores. Honestamente, achei que
ele poderia trazer a mesma temática, talvez até a mesma história, com personagens
mais bem construídos. São rasos, a passagem de tempo é um pouco truncada e
perde a oportunidade de explorar os temas complexos com mais profundidade. Mas
acima de tudo: clichês! Clichês everywhere!!! Até pouco mais da metade do livro
eu me senti lendo uma mistura de Crepúsculo com 50 Tons de Cinza. Há mais de 10
anos eu não lia um livro assim.
Porém, na segunda
metade ele me cativou na temática e, por mais fórmula pronta que seja, admirei
que a autora teve a firmeza de manter o caminho que ela começou.
Se eu gostei? Sim,
considerando e respeitando a relevância que tem este tipo de leitura e o tema
ao público que se destina. Ele definitivamente não entra no meu rol de livros
favoritos, mas eu entendo que tenha uma parcela de pessoas que amaram. Tanto é
que ele está na lista de mais vendidos há muito tempo. Ele também tem uma boa fórmula
de filme, na verdade a receita pronta. Tanto é que, depois de terminar a
leitura, a primeira coisa que eu pensei foi: eu aposto o que for que já tem uma
adaptação ou projeto de adaptação pra cinema, dito e feito. [OFF: que aliás, eu
vou assistir porque será com o Justin Baldoni e quem assistiu Jane The Virgin
me entende].
A PARTIR DAQUI CONTÉM SPOILERS.
Falando um pouco mais
sobre o livro em si: é um romance narrado em primeira pessoa pela personagem principal,
Lily Bloom. Lily é uma jovem de 23 anos que trabalha em uma empresa de
Marketing e tem o sonho de abrir o próprio negócio, uma floricultura. Todo o livro
é um relato da vida atual de Lily com alguns flashbacks da sua adolescência
trazidos através da leitura de diários antigos. Ela cresceu num lar com muita
violência doméstica (do pai com a mãe). O que faz com que ela tenha péssimas
lembranças do pai (recém falecido) e muitos ressentimentos com a mãe que, na visão
dela, nunca fez nada pra tentar sair daquela situação (criava desculpas, não
denunciava e aceitava calada). Além deste tema sensível, durante a adolescência
ela também se envolve com um garoto em situação de rua, que foi colocado para fora
de casa ao completar 18 anos. É um relacionamento bonito de se ver e que aborda
o tema até de forma interessante, especialmente quando ela questiona ele sobre buscar
outros caminhos e ajuda e o livro traz de maneira rápida, mas clara, de que não
é tão simples assim e sobre a importância de se ter apoio e oportunidades. A
amizade (e romance) entre os dois dura pouco, apenas alguns meses, e então o
rapaz – Atlas – se muda de cidade, se alista na marinha e eles passam anos sem contato.
O livro começa com um
encontro um pouco improvável de Lily com Ryle, num momento difícil de muita dor
para ambos. E aqui também começam os clichês. Lily é bem o perfil daquela
mocinha de filmes adolescentes. Ryle, é claro, é lindo de tirar o fôlego, rico
e um neurocirurgião de sucesso. Quais as chances?
A primeira conversa
deles escalona muito rápido de um “o que você está fazendo aqui?” pra assuntos
profundos e uma tensão – e proposta – sexual. Ao longo da história, Lily e Ryle
entram num relacionamento intenso – também cheio de clichês de “eu não quero
romance, só quero ser bem sucedido e sexo casual, mas estou perdidamente viciado
em você e posso mudar tudo”. Há um reencontro com Atlas (além de outros
encontros muito convenientes e cheios de coincidências) e então as coisas
começam a ficar um pouco mais complicadas. Em determinado momento, o “cara rico,
lindo e maravilhoso” começa a ter reações violentas e episódios de agressão, o
que coloca Lily em crise pois se vê numa situação parecida com a da sua mãe.
Pra mim, essa é a parte
positiva do livro. Embora os acontecimentos venham numa velocidade de narração
meio esquisita e a autora gaste mais tempo descrevendo cenas de sexo do que
outros momentos que ela poderia ter explorado melhor, ainda assim fica muito
claro que a violência doméstica não acontece de uma hora pra outra e que
existem muitos níveis de complexidade nas relações. A trama beira a tentar “justificar”
o comportamento de Ryle e eu fiquei bem preocupada de que seria mais uma
historia de “mocinha salva o cara gostoso que não sabe se relacionar”. Mas,
como eu comentei no início, UFA que a autora se manteve firme no seu propósito
e levou a abordagem pra um sentido de “ok, você tem seus problemas, mas eu não
preciso lidar com eles e tchau”.
É aqui que eu acho que
o livro “se salva”. Considerando o público a quem é destinado, é importante
falar abertamente sobre alguns temas tão sensíveis e trazer a possibilidade de
algumas mulheres se reconhecerem naquela narrativa e cortarem por terra
histórias que poderiam ser (mais) trágicas.
E, pra mim, a pior parte do
livro: embora não ache que a violência e o relacionamento abusivo sejam romantizados
aqui, achei bem problemático que o agressor não tenha sido denunciado por
ninguém e sua única “condenação” tenha sido ficar sem a esposa.
Existe um segundo livro de continuação – que eu vou ler, sim, porque sou curiosa e é mais uma leitura rápida. Vamos ver se a autora abordou isso ou não. Embora suspeito que o segundo livro deva ser mais água com açúcar sobre o relacionamento de Lily com Atlas (o ex-amigo-namorado mendigo que ela reencontrou).
E você? Já leu esse livro ou outro da autora? Gostou? Me recomenda alguma leitura?
Próxima resenha: A
mulher do viajante no tempo
(título original: “The time
traveler’s wife”. Autora Audrey Niffenegger)
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