O certo pelo duvidoso

terça-feira, 12 de outubro de 2010


Lembro-me das eleições em que o Lula estava tentando se re-eleger (e conseguiu), este foi seu slogan: "Por que trocar o certo pelo duvidoso?". Não estou aqui para fazer qualquer apologia política, acho que até poderia, levando-se em conta nosso período de segundo turno, mas me recuso a discutir algo tão revoltante e essa postagem não tem absolutamente nada relacionada à política.

No entanto, gostaria de parafrasear esse slogan em âmbito de vida particular.
Que a vida é uma sequência de escolhas e decisões todo mundo já sabe. Muitas vezes estas próprias escolhas nos trazem a possibilidade da troca. Algumas dessas possibilidades são ridiculamente fáceis de resolver, como por exemplo quando você leva uma barra de cereal pra faculdade e sua amiga quer trocá-la por um sonho de valsa, é óbvio que você troca - ok, esta foi uma situação bem improvável.
O impasse na verdade é quando as decisões vão além de um bombom ou a roupa da balada - apesar de que esta também não é das mais fáceis. Mas baseado em quê você faz suas escolhas com relação a sentimentos? E quando esses sentimentos envolvem outras pessoas?

Eu particularmente acho muito difícil o processo de sair de um relacionamento e entrar em outro. É sempre um algo extremamente longo e desgastante emocionalmente.
Alguns amigos não entendem por que é tão complicado pra mim todo esse processo. Não se trata apenas do fato de gostar tanto de alguém e deixar de gostar. Por mais que você não esteja mais com determinada pessoa, aquilo ainda é vigente.
Gostar de alguém significa permitir a si mesmo e permitir que esse alguém possa estabelecer um relacionamento com você. Então, sim, gostar é uma escolha. Se eu não escolher gostar de alguém (ou seja, não escolher me abrir para determinadas situações) eu simplesmente não vou gostar de alguém.
Então já temos duas etapas no processo que são baseados em escolhas:
1) Escolher esquecer alguém e partir pra outra - o famoso "move on".
2) Escolher gostar de alguém.
Partindo do pressuposto que 99% dos relacionamentos terminam de maneira dolorosa e estamos falando da parte menos interessada num rompimento (uma vez que para quem rompe é sempre muito mais simples e rápido o processo, e muitas vezes o este processo já começou bem antes do rompimento) é complicado confiar em alguém a ponto de se permitir gostar.

E é aí, depois dessa enrolação toda, que entra o slogan do nosso presidente. A lógica - talvez absurda - que o meu cérebro monta é: se alguém está sozinho, possivelmente triste devido a um relacionamento "fail", mas já se acostumou a estar sozinho e está bem assim (afinal a única preocupação neste quesito é relembrar alguns momentos do relacionamento passado e nada mais), então por que gostar de outra pessoa e se permitir passar por todo o desgaste novamente e acabar igual?
ATENÇÃO: este não é o pensamento de alguém que não acredita nos sentimentos ou em bons relacionamentos. É apenas uma nova visão para possibilidades que podem se abrir sem o desgaste de começar a gostar de alguém.

Não sei se estou conseguindo me fazer entender perfeitamente. Mas vou tentar explicar de outra forma.
Se eu demoro para sair de um processo de relacionamento e entrar em outro não é porque eu gosto de sofrer, ou porque eu crio esperanças onde não existem ou porque eu estou descrente no amor, nada disso.
É simplesmente pelo fato de que, apesar de toda a dor, quando um relacionamento acaba eu sei onde estou pisando. Porque sou eu e eu mesma. Existe um sentimento que ficou, mas não tem com ele nenhum tipo de plano, esperança, nervosismo ou possibilidade. Então, eu tenho a sensação de que nesta situação eu posso dar prioridades a outras coisas que eu precise me concentrar mais.
A partir do momento que eu decido gostar de outra pessoa fico vulnerável outra vez e aberta para toda a insegurança, medo, ansiedade e começo a pisar num terreno que eu não conheço, pois envolve alguém novo, que eu não tenho como saber o que sente. Diferente do anterior, que justamente por ter acabado eu já sabia.

Então, todo o processo da passagem de um relacionamento para outro é longo justamente por isso: muitas vezes eu prefiro sim permanecer no certo, do que trocar pelo duvidoso.
Algumas pessoas chamam de falta de amor próprio, para mim é simplesmente uma questão de lógica.


Se você não entendeu absolutamente nada do que eu escrevi, se você também passa por um processo muito longo entre desapego e apego, deixe seu comentário no campo abaixo. E se você é do tipo de pessoa que consegue dar "move on" rápido, escreva-me também dizendo como faz! Obrigada.

5 comentários:

  1. Meu, esse texto foi foda!
    Sem dúvida vc pensa exatamente como eu penso...e o momento q to passando é esse...
    É bem complicado essa transição...você quer seguir em frente, mas fica preso ao passado..é tudo mto estranho...
    Ficarei de olho aqui nos comentários a espera dos "move on" aparecerem ahahaha

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  2. eu tava me sentindo exatamente assim a alguns dias!
    então acho q realmente preferimos manter uma situação q já nos acostumamos, a passar por qq dor novamente, seja a dor da dúvida do início do relacionamento, ou a dor do fim.

    acho q passo por esse processo um pouco rápido, pq comigo eu tenho pouco medo de mergulhar em um relacionamento, pq qdo eu gosto, acho q pode ser dessa vez q é encontrei o meu 'principe'(eu sei, é altamente piegas), ai me empolgo, e qto menos tempo eu passei me iludindo, + rápido me desempolgo.

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  3. Meu, Esse texto foi foda! [2]

    o Desapego "total" eu acho que é extremamente demorado, afinal, todo mundo sente aquela pontada a ver a(o) ex com outro(a). Se não sente, é pq não tava envolvido de fato em um relacionamento.

    Da pra comparar este tempo com um processo de cura, os organismos das pessoas não demoram o mesmo tempo para se curar de uma mesma doença, cada um tem seu tempo de recuperação... e tudo que não queremos quando estamos nos recuperando é pegar outra doença, certo? Então, é mais ou menos assim que eu penso!

    Meu processo de desapego vem acontecendo faz um bom tempo, acho que to quase curado aeuheauhae.
    Tipo, de vez em quando, ainda rola aquela vontade da pessoa (sabe? ligar, ver, conversar, ficar junto, e blablabla). Mas já sinto que não sinto tanto, auehaeuh.
    (uff, falei d+)

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  4. @hbarzan sim sim... todo mundo se "cura" uma hora... Graças a Deus o ser humano possui um dom maravilhoso chamado RESILIÊNCIA.

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  5. Oi, Gabi. Gosto de seus textos. Vc escreve mt bem. Parabéns!

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